Não há limite para a criatividade dos piratas. Antes mesmo de chegar às salas, cópias digitais de boa qualidade de filmes de orçamento bilionário podem ser compradas em qualquer camelô da esquina. Ou estão disponíveis em alguns sites prontos para serem baixadas de graça. O mesmo acontece com softwares, CDs, DVDs e jogos online. A estimativa é que apenas com cópias ilegais de software as empresas tenham perdido US$ 34 bilhões no ano passado, em todo o mundo. Já os estúdios de Hollywood acreditam que o prejuízo tenha superado US$ 6 bilhões no período. ?Entretenimento é global e precisa de medidas mundiais para ser protegido?, diz Bob Pisano, presidente da MPA, entidade que reúne os principais estúdios de cinema americanos. ?Na era da internet é preciso encontrar formas eficientes e constantes de combater a pirataria.? Mas, se os piratas têm imaginação fértil, os empresários da área querem mostrar que não ficam para trás na busca de soluções para o problema. Começam a surgir idéias para os mais diferentes estragos e todas têm algo em comum: evolução tecnológica.

É o que promete, por exemplo, o sistema de proteção da Sony DADC, ARccOS. Por meio dele, a empresa insere uma chave codificada que transforma cada ponto do DVD num conteúdo único com proteção individual. ?Para burlar esses códigos o pirata terá de desvendar várias partes diferentes?, diz Rodrigo Altieri, diretor de produto da Sony DADC. Segundo Altieri, para quebrar os códigos os piratas demorariam cerca de 30 dias e perderiam o principal período de vendas que é o de lançamento do vídeo. Usado desde 2004 nos Estados Unidos, o sistema está inserido em mais de 100 milhões de DVDs e protege cerca de 650 títulos dos principais estúdios de cinema. No Brasil, em dois meses foram vendidos mais de 80 mil DVDs com a proteção. A intenção é que, até o final do ano, 20% dos 650 mil filmes produzidos mensalmente pela Sony DADC no Brasil sejam equipados com o sistema ARccOS. ?Não pretendemos acabar com a pirataria, mas sim dificultá-la?, diz Jorge Magalhães, diretor-geral da Sony DADC. De acordo com Magalhães, o sistema não encarece o valor dos DVDs, já que em lotes com mais de 20 mil unidades o acréscimo é de R$ 0,06 por DVD.

Outra área na qual a pirataria tem gerado muita polêmica ? e, inclusive, questionamentos sobre o modelo do negócio ? é a de música. Na Alemanha, o site de vendas de canções Akuma encontrou uma solução para evitar que arquivos trafeguem livremente pela rede. Em vez de impedir a cópia ou a transferência para tocadores de música digital, os responsáveis pelo endereço adicionaram uma marca d?água em cada canção vendida. Desenvolvida pelo Instituto Fraunhofer, a tecnologia provoca alterações inaudíveis no arquivo. Porém, uma vez compartilhado de forma indiscriminada pela rede, permite rastrear o comprador da música para que sejam tomadas atitudes legais contra o mesmo. ?É nosso compromisso para que os artistas lancem seus repertórios na internet?, disse Sascha Hottes, diretor do Akuma. Das salas de aula da Universidade de Stanford também saiu uma boa alternativa : o Creative Commons. Áudio, vídeo, textos e fotografias ficam disponíveis no endereço (uma rede mundial de compartilhamento), porém os proprietários dos conteúdos abrem mão de parte dos direitos autorais. ?As empresas precisam se conscientizar de que é necessário renovar o modelo de atuação?, diz Thiago Tavares, professor de Direito da Informática da PUC Bahia. ?O PC é uma máquina de copiar e é preciso se adaptar.? No Brasil, o Creative Commons é gerenciado pela Fundação Getúlio Vargas e colocou na rede o primeiro longa que pode ser baixado e assistido. É o filme Cafuné, de Bruno Vianna. No mundo todo, o programa ? sem fins lucrativos ? já possui mais de um bilhão de obras disponíveis.