O combate à corrupção é importante para o crescimento latino-americano, disse ontem o economista Alejandro Werner, ao apresentar as perspectivas da América Latina e do Caribe para este ano e para o próximo. Os casos do Brasil e do Peru exemplificam, segundo ele, os efeitos macroeconômicos desse tipo de crime. Werner dirige o Departamento de Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).

A economia da região deve crescer 1,1% neste ano e 2% em 2018, segundo as novas projeções. Os números são pouco menores que os da estimativa anterior, divulgados em janeiro, 1,2% e 2,1%. Para o médio prazo projeta-se uma expansão, classificada como modesta, de 2,6%.

O Brasil deve crescer menos que maior parte dos latino-americanos. As estimativas indicam 0,2% em 2017 e 1,7% em 2018, depois de uma contração de cerca 8% entre 2014 e 2016. O relatório apresentado por Werner menciona, entre os novos fatores positivos, a safra recorde de grãos, o estímulo ao consumo proporcionado pela liberação das contas inativas do FGTS, os preços mais altos do minério de ferro e o recuo da inflação maior que o esperado.

O texto ainda cita como novidade positiva a criação do teto para o gasto federal, mas aponta como “imperativa” a reforma da Previdência, tanto para garantir um ajuste sustentável das contas públicas quanto para assegurar a aposentadoria das gerações futuras.

Embora o Brasil tenha sido citado por Werner, no fim dos comentários, como um dos países severamente prejudicados pela corrupção, essa palavra nenhuma vez aparece no longo parágrafo dedicado, no texto, à economia brasileira. A palavra surge duas vezes, em outras passagens, em como fator de insegurança em alguns países.

Além disso, no parágrafo sobre o Peru outra palavra é usada para designar a bandalheira e seus efeitos. Eventos internos “derivados da investigação de subornos relacionados com a brasileira Odebrecht” podem prejudicar em 2017 o investimento na economia peruana e sua expansão, segundo o texto. Têm sido frequentes as menções à Odebrecht em discussões sobre corrupção em países latino-americanos. Seu nome foi citado várias vezes, no começo de abril, em Buenos Aires, na reunião do Fórum Econômico Mundial sobre a América Latina.

Programas de ajuste fiscal têm sido aplicados em vários países da região e isso ajudou a enfrentar sem maiores desarranjos a fase de preços baixos dos produtos básicos exportados. Para alcançar crescimento superior à taxa de 2,6% estimada para o médio prazo, o FMI recomenda programas para eliminar gargalos da infraestrutura, educação de maior qualidade, melhora do clima de negócios e atenção à governança.