No país em que 61% da população (118,9 milhões) se declaram católicos, segundo o censo do IBGE de 2019, os padres se tornam intermediários previsíveis do voto desses fiéis. A atuação dos religiosos que se destacam em suas comunidades desperta o interesse de políticos, que procuram os padres com o objetivo de obter apoio nas eleições.

Em Sorocaba, a 87 quilômetros da capital, o padre Flávio Miguel Jorge Junior, gestor da Irmandade Santa Casa – responsável por um dos principais hospitais filantrópicos da região – já perdeu a conta de quantos candidatos recebeu nesta eleição. Foram ao menos cinco disputando uma prefeitura e dezenas de postulantes à Câmara. “Sou um padre, não agente político partidário, mas procuro receber todos os candidatos que me procuram com respeito e equidade”, afirma. Jorge Junior diz encarar o assédio com naturalidade. “A Santa Casa é o grande hospital do povo sorocabano e a saúde, não só em Sorocaba, mas em todo o País, é uma das maiores pautas apresentadas pela população.”

Em Olímpia, 446 quilômetros ao norte da capital, o padre Ivanaldo Mendonça, da Paróquia São José, foi procurado para se lançar candidato mas não aceitou – a Igreja exige que os padres renunciem à batina para concorrer a cargos eletivos.

No entanto, ele tem uma atuação de destaque na eleição local. Organizou lives pela internet com os quatro concorrentes à prefeitura e seus vices. “A iniciativa responde aos desafios de que, cada vez mais, os cristãos católicos se empenhem de forma consciente para colaborar na construção de um mundo melhor para todos.”

Na segunda-feira, em Jundiaí, a 58 quilômetros de São Paulo, os 13 concorrentes à prefeitura participaram de live coordenada pelo bispo dom Vicente Costa. “O período eleitoral municipal é o momento oportuno de manifestar nossa contribuição para a escolha dos prefeitos e vereadores que se mostrem preparados para conduzir a cidade”, afirma o bispo. A diocese realizou encontros com candidatos em outras nove cidades e produziu oito vídeos explicativos sobre a eleição.

Em documento do dia 28 de outubro, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lembrou que o papel do clero é também o de incentivar a participação dos católicos na política. “Darão bons frutos os políticos que priorizarem o bem comum e a vida plena, desde a concepção até a morte natural, de todos os cidadãos, sem quaisquer discriminações, nunca buscando seus próprios interesses pessoais e corporativos”, afirma o texto, assinado pelo presidente da CNBB, dom Walmor de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte.

Dos 28 mil membros do clero católico no Brasil, 28 concorrem nestas eleições, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. O Código de Direito Canônico, que disciplina a vida eclesiástica, proíbe que os clérigos assumam cargos públicos que implicam em exercício de poder civil. No entanto, a CNBB delega às dioceses a decisão sobre liberar ou não as candidaturas. No Estado de São Paulo, a Igreja Católica reconhece apenas quatro padres candidatos. Todos estão afastados das funções.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.