Com a proposta decepcionante apresentada pela União Europeia (UE) para o comércio de carne e etanol com o Mercosul, foi na prática adiada para novembro uma possível rodada decisiva para avançar na parte mais complicada do acordo, que é o que trata da troca de mercadorias entre os dois blocos. A meta de fechar o acordo em dezembro parece cada vez mais difícil de alcançar.

Depois de um atraso de um ano e quatro meses, os europeus completaram na terça-feira sua proposta para o capítulo do comércio de bens. Eles se propuseram a comprar, a cada ano, até 70.000 toneladas de carne e até 600.000 toneladas de etanol por ano. Conforme mostrou o jornal “O Estado de S. Paulo” em sua edição do último sábado, esses números, que já eram conhecidos informalmente desde a semana passada, são consideradas inaceitáveis pelo setor privado.

Na avaliação dos negociadores sul-americanos, a proposta europeia não cumpriu o combinado. Isso porque as cifras são menores do que as que estavam sobre a mesa em 2004, quando as negociações do acordo chegaram a um impasse. Na época, a intenção dos europeus era importar 100.000 toneladas de carne e 1 milhão de toneladas de etanol. Em 2010, foi firmado um compromisso que a nova oferta para retomar os entendimentos teria de ser um avanço em relação a 2004. Porém, o que se viu na atual rodada foi um retrocesso.

Na terça-feira, os negociadores do Mercosul e da União Europeia começaram a discutir como melhorar as propostas de parte a parte. Se tudo correr bem, esses parâmetros poderão ser decididos ao longo desta semana.

A melhora na oferta em si, porém, não deverá ocorrer na atual rodada. A negociadora-chefe da Direção-Geral de Comércio da Comissão Europeia, Sandra Gallina, disse que foi necessário causar muito descontentamento para trazer a proposta. “Não foi fácil chegar aqui com esses números”, disse ela, num encontro com empresários sul-americanos promovido anteontem pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil).

Assim, ficou claro aos negociadores sul-americanos que no momento não há condições políticas de a Europa ampliar as cotas de produtos a importar do Mercosul. A expectativa é que novos números sejam apresentados na rodada programada para o período de 6 a 10 de novembro.