O bom desempenho das ações de commodities, em dia de retomada acima de 5% nos futuros de petróleo, contribuía para que o Ibovespa firmasse alta e se reaproximasse dos 115 mil pontos no melhor momento da sessão, muito moderada a partir do meio da tarde e afinal devolvida na reta final, ante o avanço do dólar e dos juros futuros, que voltaram a refletir incertezas sobre as contas públicas em meio à pandemia. Ao fim, o índice da B3, com o dólar renovando máximas da sessão a R$ 5,64, fechou na mínima do dia, perto de ceder os 112 mil pontos, tocando menor nível intradia desde 10 de março (109.998,86 pontos).

Saindo de máxima a 114.822,60 pontos, com abertura a 113.272,08 pontos e giro a R$ 30,6 bilhões, o Ibovespa fechou nesta quarta-feira em queda de 1,06%, aos 112.064,19 pontos, acentuando as perdas da semana a 3,58%, nesta terceira queda diária consecutiva, todas acima de 1%.

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No mês, o índice ainda avança 1,84%, colocando as perdas do ano a 5,84%. A queda desta quarta levou o Ibovespa ao menor nível de encerramento desde 9 de março, então aos 111.330,62 pontos.

Em Nova York, o dia também sofreu reversão perto do fechamento, com o Dow Jones (-0,01%) e o S&P 500 (-0,55%) se juntando ao Nasdaq (-2,01%) em terreno negativo no encerramento. Mais cedo, Wall Street reagia bem a novas declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e da secretária do Tesouro, Janet Yellen, sobre a economia americana e a perspectiva para inflação e endividamento.

Na B3, a busca por ações descontadas, como as de Petrobras (PN +0,09% e ON -0,09% no fechamento) e bancos, acabou sendo freada pela progressão do dólar e dos juros futuros à tarde, e afinal revertida, com a moeda à vista sendo negociada em alta superior a 2,2% na máxima do dia, a R$ 5,6421 – no fechamento, o avanço era de 2,25%, a R$ 5,6396.

Além de Petrobras, o dia ensaiava recuperação para outro segmento de peso e que também acumula perdas no ano, o financeiro, que se alinhou em baixa no encerramento (BB ON -1,82%, Itaú PN -1,74%), assim como a maior parte do siderúrgico, à exceção de Gerdau PN (+0,79%) e Gerdau Metalúrgica (+0,59%).

O humor do dia começou a mudar com o relato de que, em carta ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), governadores de 16 Estados defenderam aumento do valor do auxílio emergencial a R$ 600, como no início da pandemia, o que colocou pressão sobre a curva de juros e o dólar no meio da tarde, limitando então a recuperação do Ibovespa.

O desdobramento ocorre na véspera da votação do Orçamento no plenário da Câmara e, depois, do Senado, o que reforça o alerta do mercado para a situação fiscal, ainda percebida como “calcanhar de Aquiles”, observa a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

“Lá fora, a margem de manobra apontada pelo Powell com relação à inflação estava contribuindo para um dia positivo, assim como o petróleo, com o problema no cargueiro que paralisou o Canal de Suez”, diz Romero Oliveira, especialista em renda variável da Valor Investimentos, ressalvando que a assunção de risco em ações com exposição à economia interna, como o varejo, continua sendo afetada pelos efeitos da pandemia e pelo lento avanço da vacinação, o que também enfraquece a confiança dos consumidores. “No Brasil, a segunda onda de lockdown, com recorde de mortes, faz o investidor ter receio em tomar risco em empresas ligadas ao cenário interno, e que devem continuar pressionadas até que haja mais ritmo na vacinação, possivelmente em abril ou maio.”

Seja pelo dólar ou pelo noticiário corporativo, parte das componentes do Ibovespa conseguiu sustentar bons ganhos na sessão, especialmente Carrefour (+12,77%), à frente de Suzano (+2,63%) e de Vale (+2,30%) entre as vitoriosas do índice da B3 nesta sessão, assim como Gol (+2,46%). No lado oposto, IRB cedeu 6,20%, Via Varejo, 5,53%, e Magazine Luiza, 5,30%.