Cenas de perseguição em um carro esportivo com faróis dianteiros que se transformam em metralhadoras e criam um escudo retrátil à prova de balas. Foi dessa forma que os filmes do agente 007 tornaram os carros da Aston Martin mundialmente conhecidos. Em 1964, o modelo DB5 deu início à participação da fabricante britânica na série. Ele foi sucedido por outros cinco modelos que faziam o impensável para um carro. Pois o Aston Martin já não é apenas mais um carro esportivo dos sonhos. Agora dá para viver nele. Com 66 andares e 391 apartamentos, o Aston Martin Residences é o primeiro empreendimento residencial da grife automotiva. “O DNA do design impecavelmente elegante da Aston Martin está na alma do edifício”, disse à DINHEIRO Germán Coto, CEO da G&G Business Developments, que criou o residencial em parceria com a fabricante britânica. “Cada aspecto foi pensado cuidadosamente para atender as necessidades dos mais exigentes clientes”, afirmou.

Localizado em Miami, o edifício tem apartamentos à venda a partir de US$ 900 mil. Para quem comprar a cobertura triplex, o valor pode chegar a US$ 50 milhões. Esse investimento inclui um diferencial de peso: dá direito a um Aston Martin Vulcan, o último modelo dos 24 fabricados pela montadora.

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Com 70% das unidades vendidas e entrega prevista para dezembro do ano que vem, o residencial quer se destacar dos demais. Em Miami, serviços de manobristas, spas, salas de cinema e piscinas já fazem parte do “pacote básico” dos residenciais. Por isso, além de oferecer um serviço de mordomo pessoal e uma galeria de arte permanente, a aposta está no combo automotivo — e na marina privativa de iates. “A conexão com a água faz parte do estilo de vida de Miami”, disse o executivo. “Os moradores poderão chegar em casa por terra ou pelo mar.”

Com opções que vão de studios (65 m2) até a cobertura triplex (1.750 m2), o Aston Martin Residences quer ser um reduto de amantes de carros esportivos de luxo. Quem desembolsar a partir de US$ 970 mil em uma cobertura terá direito a escolher entre uma edição especial dos modelos DB11 ou DBX Riverwalk, desenvolvida especialmente para os moradores do edifício. Os diferenciais destes veículos – que no mercado custam a partir de US$ 180 mil – serão elementos personalizados. A exclusividade se limita a 47 compradores.

Essa complementaridade é decisiva para fidelizar esse perfil de cliente. O analista do mercado de automóveis luxo Gustavo Braga diz que a marca do carro passa a fazer parte da identidade do proprietário. “Agora também quando ele volta para casa”, afirmou. Além disso, Braga acredita que o mercado imobiliário ajuda na fidelização natural de geração para geração e fortalece a comunidade interna ao reunir fãs da marca em um mesmo ambiente. “São grifes que sobrevivem de margem, de exclusividade, e não de superescala.”

MERCADO Unir grifes automotivas a empreendimentos residenciais não é algo novo, apesar de recente. E o caminho parece sem volta. Em 2017, a Porsche inaugurou a Porsche Tower, também em Miami. O primeiro empreendimento residencial da alemã é visto até hoje como um sonho pelos amantes de carros de luxo. E não é para menos. Uma estrutura com três elevadores leva os veículos pelos 60 andares do edifício, tornando possível estacionar o carro no meio da sala de estar. Ou por todo o apartamento, como no caso da cobertura quadriplex, que acomoda até 11 veículos.

No Brasil, essa disputa também já aportou. Em 2014, São Paulo ganhou um edifício desenhadospelo mesmo escritório de design da Ferrari, o Pininfarina, em parceria com a Cyrela, uma das maiores incorporadoras do País. Em 2019, outro empreendimento do escritório se destacou na capital paulista, o Heritage. Com 32 andares, o residencial inclui de seis a oito vagas de garagem. Previsto para ser entregue em 2026, outro edifício com nome de carro esportivo é o Tonini Lamborghini Residences, em Balneário Camboriú (SC). Com 53 andares, apresenta um design futurista e apartamentos que podem chegar a R$ 16 milhões.

Apaixonado por carros, o brasileiro é foco potencial desse segmento. “Compradores da América do Sul são importantes, em especial o Brasil”, disse Germán Coto. As cenas de perseguição ainda devem ficar restritas ao agente secreto James Bond. Mas o luxo e a exclusividade estão cada vez mais próximos de quem pode pagar por seus sonhos.