As celebrações de casamento passaram por fases distintas na pandemia. Inicialmente, foram adaptadas às videoconferências. Depois, vieram no formato de “mini weddings”, com número reduzido de convidados. Agora, a retomada se aproxima ao que era antes da covid-19, embora ainda com algumas adaptações.

Em São Paulo, por exemplo, casamentos, bodas, formaturas e outros eventos sociais e corporativos não terão mais restrição de horário e ocupação máxima a partir desta terça-feira “Estamos felizes e aliviados que a maioria dos nossos convidados estará vacinada no dia”, conta a auxiliar de saúde bucal Mariana dos Reis Jóia, de 26 anos, que remarcou a cerimônia para ontem com o auxiliar de enfermagem Patrick de Oliveira, de 26, após o adiamento no ano passado. “Com missa e sem festa.”

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O veto à pista de dança é a ausência mais sentida. Em São Paulo, a expectativa é de que esses espaços sejam liberados em novembro, segundo falas recentes do governo estadual. Por agora, a pista está restrita à primeira dança dos noivos e outros momentos simbólicos. Os DJs e artistas contratados acabam se apresentando durante o jantar, que se tornou um dos pontos altos da comemoração.

No setor, a liberação de horário é a maior motivação. Anteriormente, com as exigências de encerramento (o horário variou, chegando a ser às 20 horas), as cerimônias estavam começando no início da tarde. A mudança foi bem-vinda pela advogada Amanda de Carvalho Lopes, de 24 anos, que se casará no dia 21. A celebração iria começar às 14 horas, por causa das restrições, mas teve o início modificado para as 18 horas. “A gente nem acreditou. Alteramos o horário e avisamos os convidados por WhatsApp”, conta.

O número de convidados, que havia sido reduzido de 300 para 200 pessoas, foi mantido. “Pensamos que vão ficar mais à vontade se não estiver tão cheio, por mais que o espaço comporte 500 pessoas”, justifica Amanda. O casamento foi adiado três vezes por causa da pandemia, após um planejamento de quase dois anos com o noivo, o analista de sistemas Pedro Costa, de 28 anos.

A penúltima marcação era para maio, porém, o casal percebeu que não seria adequado falar em uma comemoração em meio à segunda onda da covid19. “A gente parou e viu: ‘Meu Deus, não vai dar’. A gente tinha a expectativa de que melhorasse para ter uma festa reduzida, mas como enviar um convite de casamento enquanto morriam 4 mil pessoas por dia?”

Já a empresária e influenciadora Fernanda Lee, de 23 anos, e o engenheiro Bernardo Bertolucci, de 38 anos, têm a expectativa de que a transmissão da covid-19 esteja mais reduzida até a nova data do casamento, em dezembro. “Com a vacinação, a gente tem esperança de melhorar”, comenta a noiva.

A noiva conta que o formato da cerimônia foi influenciado pela pandemia. Para reduzir o risco de contágio entre os 160 convidados optou-se, por exemplo, por um espaço ao ar livre, em uma chácara. “O mais difícil foi achar uma data que todos os fornecedores pudessem.”

Setor. Presidente da Associação Brasileira de Eventos (Abrafesta), Ricardo Dias comenta que o setor foi um dos mais atingidos pela pandemia em meio a uma cadeia que envolve empresas de portes e focos distintos, como casas de festas, cerimonialistas, bufês, floriculturas e outros. “Não nos confundam, não somos os vilões”, destacou.

Um dos exemplos dessa retomada é a realização de uma feira voltada ao setor neste fim de semana, a Wedding Outlet, que foi remarcada duas vezes por causa da pandemia. Idealizador do evento e sócio de uma assessoria de eventos sociais e corporativos, Vinícius Favale comenta que remarcou 179 casamentos por causa da pandemia. Ele acrescenta que a situação não só afetou as celebrações em si, mas toda a vivência anterior ao grande dia, por vezes compartilhada mais de perto com amigos e familiares. “Os noivos não tiveram a oportunidade de viver o ano do casamento, é todo um processo (de ida a eventos, de escolha dos trajes, da decoração, dos locais etc).”

Favale conta, ainda, que a retomada do setor neste momento não é apenas dos casamentos remarcados, mas em grande parte de quem está começando a planejar a celebração para o segundo semestre de 2022. “A gente vive agora um problema de datas. Este final de ano ainda tem disponíveis, mas, para o ano que vem há dificuldade. É uma demanda reprimida de três anos (2020, 2021 e 2022).”

Para ele, até pela necessidade maior de planejamento, os casamentos parecem ser a maior demanda neste momento. “O (setor) de debutantes demora mais para aquecer, até pela ausência de adolescentes (em parte) na escola, dá uma esfriada.”

Também assessora de eventos sociais, Vivi Gomes conta que o telefone não tem parado de tocar nos últimos dias, após ficar 15 meses sem realizar nenhuma celebração. Ela conta que a remarcação nas últimas semanas têm exigido malabarismo para aliar as datas de todos os cerca de 30 a 40 fornecedores de um casamento. Como exemplo, cita uma celebração adiada por cinco vezes. Os noivos já estavam tão cansados da situação que aceitaram se casar em uma sexta-feira, diferentemente do que desejavam, e resolveram colocar testagem na entrada do evento.

Além disso, por vezes, é necessário renegociar os contratos. “O reequilíbrio contratual geralmente é de uma diferença de 10 a 20%. Uma noiva que fechou R$ 10 mil em flores em 2019 iria receber uma quantidade bem menor em 2021 ou 2022”, diz ela.

Já Larissa Coelho, gerente de eventos do espaço Lugar 166, no Itaim-Bibi, zona sul paulistana, conta que a procura tem sido para reuniões e coquetéis corporativos durante a semana e para aniversários e casamentos no fim de semana. “As empresas colocam as equipes para interagir. Reduziram os escritórios, daí não têm mais uma estrutura para receber a equipe completa. Elas locam telão, fazem almoço, café, até happy hour”, explica. “Mesmo com as restrições, as pessoas têm personalizado bastante. Alguns até têm feito máscara para distribuir na entrada.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.