Com os custos ajustados para enfrentar a crise dos últimos anos e diante de consumidores confiantes o suficiente para, finalmente, voltar a comprar, a expectativa de é que as empresas brasileiras tenham lucros maiores em 2018. Analistas estimam que os resultados avancem até 25% em relação ao ano passado. Para quem investe em ações, a boa notícia tem efeito duplo.

Os investidores devem ser beneficiados tanto pela valorização dos papéis negociados na Bolsa quanto pelo pagamento mais generoso de dividendos, que são a parcela do lucro distribuída pelas empresas aos acionistas.

E a história inclui uma novidade: até ações de empresas normalmente excluídas das recomendações focadas em dividendos, como do setor de construção, entram agora na lista de preferências do mercado.

Para que seja capaz de pagar dividendos polpudos, uma empresa precisa ter certas características. Não deve precisar de grandes investimentos para crescer, porque isso consome parte do lucro que poderia ser distribuído. Também deve conseguir gerar receitas crescentes.

Por isso, os exemplos clássicos são ações das companhias do setor elétrico. Em geral, essas empresas têm um parque gerador ou distribuidor bem estabelecido, um rol de clientes estável e um produto, a energia, com preços reajustados anualmente.

Por lei, as empresas precisam distribuir uma parcela mínima de 25% do lucro para os acionistas. Mas, muitas das melhores pagadoras – um grupo que inclui ainda companhias de saneamento, telefonia e instituições financeiras – adotam políticas próprias mais atraentes. O Itaú Unibanco, por exemplo, paga pelo menos 35% do lucro. No fim do ano passado, animou os investidores ao distribuir 45% do lucro.

Empresas de construção normalmente não são grandes pagadoras. Porém, algumas condições atuais do setor levam os analistas a incluir companhias como a MRV, a Cyrella e a Eztec entre as sugestões para os interessados em dividendos. “A MRV conseguiu manter as vendas apesar da crise. E não há sinais de que o crédito para imóveis do programa Minha Casa Minha Vida, principal nicho da empresa, vá acabar”, diz Ricardo Vilhar Peretti, estrategista da Santander Corretora.

Há ainda um fator adicional: como lançaram muitos imóveis nos anos de euforia do mercado, as incorporadoras aumentaram seus estoques. Isso significa que, ainda por um tempo, terão produtos disponíveis para vender, sem precisar de novos investimentos para novas construções. “As construtoras estão se adaptando a um novo ritmo do mercado, que não será mais tão forte quanto já foi”, diz Marco Saravalle, analista da XP Investimentos. “Até lá, venderão muito e construirão menos. A tendência é de que essa diferença se transforme em dividendos.”

Defesa

As ações de empresas tradicionais no pagamento de dividendos são consideradas defensivas – suas cotações tendem a oscilar menos, já que são emitidas por empresas com balanços mais previsíveis. Por isso, analistas como Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da consultoria Eleven Financial, sugerem sempre manter papéis do tipo na carteira. “Quando a economia acelera, essas ações se destacam pelos lucros crescentes, que se convertem em dividendos maiores.”

Isso ajuda a entender por que os fundos de dividendos – que investem em ações que sejam boas pagadoras – costumam recuar menos que a média do mercado nas épocas de vacas magras. Em 2015, por exemplo, enquanto o Ibovespa caiu 13,3%, a desvalorização dos fundos de dividendos foi de 11,2%, segundo a provedora de informações financeiras Quantum. O contrário também vale, é claro. Em 2017, o Ibovespa avançou 26,9% e os fundos, um pouco menos: 21,4%.

De acordo com analistas da XP, a lista das empresas que devem se destacar na distribuição de dividendos inclui nomes como Copel, Taesa, Cemig e Engie Brasil, todas do setor elétrico. Entram ainda a Smiles, que administra programa de fidelização, a Sanepar, empresa de saneamento paranaense, e a Telefônica Vivo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.