Após um primeiro trimestre indicando um ano recorde para fusões e aquisições no Brasil, o movimento começou a perder fôlego. E o cenário externo teve forte influência para o esfriamento dos negócios. Entre os fatores que causaram essa freada, estão a guerra entre Rússia e Ucrânia e a expectativa de desaceleração na China, que está promovendo lockdowns por causa do aumento dos casos de covid-19. Com tudo isso, junto ao movimento de alta de inflação e de juros em todo o mundo, a disposição de empresas e fundos para assinar cheques milionários diminuiu. Isso já começa a ficar claro em números.

No ano passado, um total de 1.627 transações de fusão e aquisição ocorreram no País – avanço de 46% em relação a 2020. Depois de seguir com ânimo nos primeiros três meses de 2022, a situação começou a mudar em abril: o mês passado teve 118 negócios, queda de 17% em relação ao mesmo período do ano passado, aponta a consultoria Kroll. No quadrimestre, contudo, ainda há uma alta de 3% ante 2021.

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“Há muito ruído externo, e o investidor não gosta de incerteza”, frisa o especialista em fusões e aquisições da Kroll Alexandre Pierantoni. Segundo ele, a turbulência da guerra, que inicialmente afetou mais a Europa, já respinga no mercado brasileiro. “Além disso, a abertura e o fechamento de mercados, seja na China ou Taiwan, afetam todas as economias”, diz Pierantoni.

Apesar da recente desaceleração, o ano já trouxe alguns negócios de destaque. Entre eles, estão a união das gigantes de shoppings Aliansce Sonae e BR Malls; a oferta da SulAmérica pela rede D’Or, de hospitais; a venda do banco Modal à XP; e a negociação entre o atacarejo Giga e a chilena Cencosud. No horizonte, há negócios como a venda da Aramis (moda), das lojas do Makro (de atacado) e da petroquímica Braskem.

PREÇOS. Além do cenário ruim, ainda há a necessidade de um ajuste dos preços pedidos pelos vendedores, especialmente no setor de tecnologia, para que os negócios voltem a sair mais rapidamente, diz o chefe do banco de investimento do Itaú BBA, Cristiano Guimarães. Ele aponta que os fundos de private equity, que compram participação em empresas, devem ter posição de protagonismo nos próximos meses, pois estão bem capitalizados.

Sócio da butique de fusões e aquisições Santis, Felipe Argemi afirma que o ambiente eleitoral também deixa as empresas mais seletivas. A queda de ritmo, diz ele, vem depois de dois anos de grande liquidez global, com forte movimento no mercado de capitais. Por outro lado, a crise global jogou luz em setores que andavam esquecidos, como indústria e commodities, afirma Saulo Sturaro, sócio da JK Capital. “Já estamos vendo investidores, que antes só queriam tecnologia, olhando setores tradicionais.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.