O setor alimentício atrai o empresário Marcos Molina desde a adolescência. Sua primeira atividade profissional foi uma distribuidora de alimentos, que ele montou com apenas 16 anos. Duas décadas depois, seu nome figura entre os maiores empreendedores do mundo o no segmento de carnes. A Marfrig Global Foods, que Molina fundou e controla, é uma companhia que fatura por ano mais de R$ 40 bilhões, emprega cerca de 30 000 pessoas e não para de crescer. “O ano de 2018 foi muito intenso — sobretudo para o Brasil”, diz ele. “Passamos por uma greve de caminheiros inédita, que afetou todos os setores produtivos, e por um período eleitoral que movimentou a economia e a sociedade”. Apesar das turbulências, a Marfrig protagonizou, em um período de poucos meses, duas das primcipais operações de M&A, sigla para “mergers and aquisitions” (em potuguês, fusões e aquisições), feitas por uma empresa brasileira neste ano.

A primeira foi a compra, com capital 100% privado, de 51% de participação na National Beef, uma das maiores e mais eficientes companhias de carne bovina dos Estados Unidos. A segunda foi a venda da Keystone Foods, que havia sido adquirida em 2009. “Nos tornamos uma empresa mais simples e focada”, diz Molina. A plataforma de produção está instalada na América do Sul (Brasil, Uruguai, Chile e Argentina) e na América do Norte (Estados Unidos). Além de mais foco e do acesso a mercados importantíssimos como Japão, Coreia do Sul, China e Estados Unidos, a nova configuração permitiu reduzir a alavancagem. “Hoje, a Marfrig é uma das empresas do setor mais saudáveis financeiramente”.

Até por isso, a situação atual da companhia é bastante propícia para a estratégia de manter não apenas a sustentabilidade financeira, como aumentar a excelência operacional e investir em produtos e marcas com alto valor agregado. “Estamos vivendo um momento extremamente especial na companhia, de muito otimismo — mas sempre com os pés no chão”, comemora. “Vemos muitas possibilidades de crescimento para a carne brasileira. O País é extremamente competitivo e o setor, de forma geral, tem mostrado avanços nas áreas de qualidade e segurança alimentar”.

O otimismo se mantém em relação ao futuro governo. Molina vê agora a chance de resolver problemas estruturais para o ambiente de negócios, ainda muito burocrático, segundo ele. “Nossa estrutura fiscal está entre as mais complexas do mundo. A infraestrutura, fundamental para a competitividade, está obviamente defasada e não é compatível com um novo ciclo de crescimento”, afirma, acrescentando que o agronegócio tem muito a contribuir para a retomada do crescimento brasileiro. “A maior integração do Brasil com o mundo passa pelo sucesso do nosso agronegócio, que é exemplar no que se refere à adoção de novas tecnologias e demonstra grande capacidade de inovação. Essa força do setor tem de ser reconhecida — por toda a sociedade — e mantida”, acredita.

Outro motivo de orgulho de Molina é a sustentabilidade ambiental. Desde 2009, a companhia mantém um compromisso público com a preservação do bioma amazônico. “A Marfrig não adquire animais de fornecedores que atuam na área de floresta amazônica, em reservas indígenas ou que utilizem trabalho escravo ou análogo à escravidão”, garante. Todos os anos, esse sistema de monitoramento e controle é auditado por uma consultoria internacional independente. A Marfrig foi a única empresa do setor a obter 100% de conformidade nas auditorias nos últimos seis anos. Recentemente, a empresa firmou uma parceria com a Embrapa para incentivar a produção de carne brasileira de baixo carbono e carbono neutro. “Estamos certos de que produtos ambientalmente sustentáveis terão cada vez mais espaço no mercado global”, afirma.

Além da preocupação com o meio ambiente, Molina apoia a educação por meio do Instituto Marfrig Fazer e Ser Feliz, que fornece reforço escolar e atividades extracurriculares para 200 crianças em situação de vulnerabilidade social e econômica. “No final do ano passado, firmamos uma parceria com o Hospital de Amor, referência nacional e internacional na prevenção e tratamento do câncer, de forma 100% gratuita”, recorda Molina. Desde então, a Marfrig doou cerca de 80 000 toneladas de carne Montana para a instituição, o equivalente a 300 000 refeições, servidas a pacientes e seus familiares. “Com essa iniciativa tentamos influenciar toda a nossa cadeia — pecuaristas, distribuidores, varejistas e consumidores — a apoiar o Hospital do Amor e sua causa”, diz Molina. No que depender dele, a carne será sempre forte.


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