A PDG Realty, que chegou a ser a maior incorporadora do País em 2010, desbancando a Cyrela, protocolou ontem pedido de recuperação judicial na 1.ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, com dívidas de cerca de R$ 7,7 bilhões. Trata-se do maior pedido de proteção da Justiça do setor imobiliário.

A empresa, cujo valor de mercado chegou a bater R$ 14,4 bilhões no fim de 2010 e agora vale pouco menos de R$ 142 milhões, sucumbiu à crise do setor – que tem enfrentado um alto volume de distratos (rescisões de contratos) – e deverá levar outras companhias para o mesmo caminho, segundo fontes de mercado ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Como o processo inclui 512 Sociedades de Propósito Específicos (SPEs), organizações que a lei exige que sejam criadas para cada projeto imobiliário, o caso PDG promete ser ainda o mais complexo. Na prática, a Justiça terá de analisar a situação financeira de cada um deles. No caso da Viver, a primeira incorporadora de capital aberto a entrar em recuperação, o processo, anunciado no ano passado, envolve apenas 64 SPEs.

Na quarta-feira, 22, as ações ordinárias da empresa ficaram entre as maiores baixas da Bolsa, com queda de 10,84%.

Do total de débitos da PDG, cerca de R$ 5,3 bilhões são de dívidas financeiras com bancos – 65% referem-se a debêntures (títulos de dívida), cédulas de crédito imobiliário e capital de giro. Entre 2014 e 2016, o grupo deu início a intensas renegociações com Bradesco, Itaú Unibanco, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Votorantim para alongar boa parte dos vencimentos para 2020.

A ex-líder do mercado imobiliário tem 30 empreendimentos que ainda precisam ser concluídos, com 8,2 mil apartamentos. Desse total, 14 obras estão paradas por falta de recursos, apurou a reportagem. Segundo fontes, a empresa considera colocar projetos em andamento e terrenos à venda. Até o ano passado, a PDG contabilizava 684 empreendimentos correspondentes a mais de 146 mil unidades entregues, em mais de 70 municípios e em 8 Estados.

Origem. A incorporadora nasceu em 2003 como um braço de investimentos imobiliários do banco Pactual – na época, comandado pelos banqueiros André Esteves e Gilberto Sayão, esse último, fundador da gestora Vinci Partners, hoje a maior acionista da companhia.

Seguindo a cartilha dos bancos de investimento, baseada em equipe jovem, salários fixos baixos, bônus milionários, a incorporadora se tornou um fenômeno do mercado imobiliário. Entre 2006 e 2010, sob a condução de José Grabowsky (ex-executivo do Pactual), a empresa abriu o capital (em 2007) e fez quatro aquisições consecutivas, triplicando de tamanho e, surpreendentemente, passando a então líder Cyrela. No período, foram incorporados à PDG grupos como CHL, Goldfarb e Agre.

Mas a liderança durou pouco. A fusão de várias empresas revelou dificuldades na unificação dos processos e perda de eficiência. Além disso, a partir de 2012, o mercado de imóveis começou a perder fôlego e a ver o custo das obras subir além do previsto – problema que afetou grande parte das companhias do setor, que cresceram demais, se espalharam pelo País e perderam o controle de seus empreendimentos.

Após cinco anos de prejuízos recorrentes, várias tentativas de reestruturação e três presidentes, a PDG decidiu contratar em novembro especialistas em reestruturação de empresas. Entraram a RK Partners, de Ricardo Knoepfelmacher, conhecido como Ricardo K; e o escritório E. Munhoz, de Eduardo Munhoz. Procurados, os dois não comentam o assunto.

Agora, caso o pedido da incorporadora seja aceito pela Justiça, a companhia terá dois meses para elaborar um plano de reestruturação e apresentá-lo aos credores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.