O cliente bancário ganhou uma poderosa chave capaz de abrir as portas para um imenso universo de instituições financeiras em busca de serviços e produtos mais atraentes. A entrada em vigor da segunda fase do open banking, no dia 13 de agosto, iniciou a nova era nos serviços financeiros, em que o correntista deixou de ser aquele que se sujeita às exigências dos bancos para se tornar um alvo a ser conquistado. É o começo do equilibro no jogo desigual entre bancos e clientes. Isso porque o novo marco legal permite ao usuário tornar-se dono efetivo de suas informações financeiras, podendo compartilhar com outras instituições a fim de obter melhores condições em serviços bancários.

Lançado em 2019 pelo Banco Central (BC), o open banking dá ao correntista o controle sobre seu histórico. Antes, ele tinha uma conta no banco A e só esta instituição conhecia sua situação. Quando ele precisava de um financiamento, por exemplo, tinha de pedir ao gerente do banco e se sujeitar às regras daquela única instituição. Mas agora o correntista pode pegar seu histórico no banco A e levar para o banco B. Assim, outras instituições podem “enxergar” como é o relacionamento do cliente e oferecer melhores condições e serviços, dando início à competição bancária efetiva.

SEGURANÇA E tudo isso se dá em uma plataforma segura e o processo só é feito com a permissão expressa do correntista. As instituições se conectam diretamente, e acessam somente dados autorizados pelos clientes. Essa permissão poderá ser cancelada pela pessoa a qualquer momento. Todo esse processo leva em conta as regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que obriga as instituições a manter seguras e sigilosas as informações dos clientes. “Esse é o início de uma jornada importante, que muda completamente o papel do cliente” disse o vice-presidente de Negócios Bancários e de Pagamentos da FIS, André Beller. Segundo o executivo da empresa de tecnologia financeira, o Brasil está na vanguarda mundial, ao lado do Reino Unido, que começou em 2018, e a Austrália, que deu início ao processo em 2019.

“Esse processo não é uma ameaça aos bancos, mas sim uma oportunidade de dividir um bolo maior” André Beller, VP de negócios bancários da FIS.

Ele frisa que por ser um processo complexo a implantação exige cuidado. Por isso, acontece em várias etapas. E nesse novo cenário de transformação é preciso que os usuários saibam exatamente o seu papel. Por isso, o BC já adiou as datas da implantação para adaptação de todos e estabilidade do sistema. A terceira etapa com inclusão de pagamentos e novos serviços ficou para o final do ano, e a quarta etapa, com inclusão de seguros e outros produtos, até 2022. “Isso tudo é um trabalho em evolução que criará um organismo vivo, gerenciado por uma estrutura sólida do BC”, disse o executivo da FIS, que hoje trabalha em mais de 140 países e fatura US$ 12,6 bilhões. “Esse processo não é uma ameaça aos bancos e sim uma oportunidade, porque não é uma divisão do bolo e sim a criação de um bolo maior.”

Para o fundador do app de informações financeiras Guiabolso, Thiago Alvarez, o open banking traz a chance de criação de produtos mais adaptados à realidade do cliente, que nem estão disponíveis hoje. Mas para Victor Hugo Pereira Gonçalves, presidente da Sigilo, associação sem fins lucrativos para proteger dados pessoais e oferecer segurança da informação, a questão da segurança dos dados ainda está nebulosa. “Não está claro como eles irão garantir a manutenção do sigilo bancário e nem se os dados estarão totalmente seguros com a instituição de destino”, afirmou. Tudo isso, segundo Gonçaves, precisa ser bem explicado para não se tornar motivo para judicialização. “Há um risco iminente. Não há nenhuma autoridade de dados analisando compliance, nem há transparência para o titular de dados sobre esses possíveis riscos de liberar suas informações para outras instituições.”