É isso aí: a Coca-Cola quer devolver ao meio ambiente toda a água que retira dele e zerar sua dívida com o ecossistema ao final de cada ano. Isso mesmo: afinal, sem água, não tem Coca-Cola. Como disse o Diretor Global para o Uso Responsável da Água, Greg Koch, o líquido ?é o principal ingrediente, o suporte de vida da empresa? ? que é a maior fabricante de bebidas não-alcoólicas do mundo. Basta dizer que 1,4 bilhão de copos são consumidos, por dia, em Atlanta, nos Estados Unidos, e nas subsidiárias que distribuem as bebidas em 200 países. A marca acaba de ser eleita, novamente, a número um entre as mais valiosas do mundo numa pesquisa da Interbrand ? ela vale US$ 65,2 bilhões ? e passa a ser regida por três ?R?, como explicou Koch. Eles significam: reduzir (o consumo), reciclar (o que é utilizado no processo de fabricação dos 400 produtos) e repor (o bem natural através de projetos ambientais, como reflorestamento e proteção a rios e lagoas). O objetivo, como tudo desta grife, é superlativo: tornarse, já em 2008, a mais eficiente do setor no uso da água.

O carro-chefe de todo esse movimento é o projeto Água das Florestas Tropicais Brasileiras, que foi lançado mundialmente no Clinton Global Initiative (CGI) ? fórum internacional que se tornou o mais importante evento verde da atualidade ?, realizado em Nova York, há duas semanas (leia quadro abaixo). O programa, dentro das regras do Protocolo de Kyoto, recebeu o certificado de reconhecimento especial da CGI, entregue ao presidente da Coca-Cola no Brasil, Brian Smith. O cobiçado selo deverá atrair mais parceiros e investidores para o projeto, que já é gigante no nascedouro. São R$ 27 milhões apenas para a primeira fase, de cinco anos, período em que será feito o replantio de 3,3 milhões de mudas de espécies nativas. O piloto teve início na Serra do Japi, no Alto Tietê, em São Paulo, em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica. ?Não existe, no Brasil, um projeto tão grande como esse?, diz Marco Simões, diretor de comunicações.

Tanto investimento em meio ambiente se deve, segundo Smith, a dois fatores: ?À atitude de empresa à frente do seu tempo e a decisão de não ser um devedor da natureza, e sim uma empresa sustentável.? Ele acha um exagero pensar que a motivação empresarial pode ser o medo de a água acabar: ?Isso nunca vai acontecer!? Coerente com o que está pregando, a Coca-Cola exibe números que comprovam sua economia. No ano passado, a média de consumo de água para cada litro de bebida produzida no Brasil foi de 2,23 litros, menos que em 2005, que foi de 2,24. As duas fábricas com os melhores números são as de Jundiaí, da Femsa, em São Paulo, com 1,4 litro/litro produzido, e a Rio de Janeiro Refrescos, no Rio, com 1,6. O vice-presidente mundial de marketing da Coca- Cola, Mark Mathieu, diz que todas as ações da Coca- Cola têm uma premissa básica: ?Encorajar as pessoas a terem uma atitude positiva na vida. Isso vale para o comporta – mento cotidiano e para decisões globais, como a reciclagem e a preservação ambiental.? O positivismo se reflete no fantástico faturamento: as vendas mundiais cresceram 6% pelo segundo trimestre consecutivo e, na América Latina, o pulo foi de 9%. No Brasil, as vendas cresceram 22%. Sim, como diz o slogan, ?cada gota vale a pena?. Principalmente agora que a empresa se torna protagonista de uma importante ação de salvamento do ainda chamado planeta azul.

QUERO SER AL GORE
?Construir um mundo melhor.? A frase não poderia ser mais batida, mas o ex-presidente americano Bill Clinton se apropriou dela para explicar seu objetivo com a Clinton Global Initiative, que reúne poderosos do mundo inteiro em busca de soluções para a fome, a degradação do meio ambiente e as doenças que devastam países pobres. Criada em 2005, a conferência teve sua terceira versão realizada em Nova York, no fim de setembro, e ostentou números portentosos: em dois anos, Clinton amealhou US$ 7,3 bilhões para aplicar em trabalhos humanitários em mais de 100 países e emplacou projetos inusitados, como a linha de crédito de US$ 5 bilhões que os bancos podem dar a empresas que economizarem energia. Com isso, Clinton consegue também ?competir? com Al Gore, seu vice-presidente, que vinha ofuscando o ex-chefe no papel de grande filantropo global. Além disso, com a imagem de bom moço, ele pode alavancar a candidatura presidencial de sua mulher, Hillary, hoje favorita dos democratas na disputa para a Casa Branca.

Clinton tem se esmerado nesse novo papel. Seu livro recém-publicado Giving: How Each of Us Can Change the World (em tradução livre, Doando: como cada um de nós pode mudar o mundo) é o terceiro mais vendido na lista do The New York Times e está perto de esgotar a tiragem de 750 mil exemplares. ?O bem que pessoas e ONGs têm sido capazes de fazer provou para mim que praticamente qualquer um, não importa o salário, a idade, as habilidades e o tempo que tenha disponível, pode fazer algo útil para os outros?, resumiu ele. O Clinton Global Initiative engarrafou a esquina da Rua 53 com a Sétima Avenida, em NY ? onde fica o hotel que o abrigou ? devido ao intenso movimento de empresários, líderes não governamentais, chefes de governo e estrelas que participaram de mesas, como Angelina Jolie, Brad Pitt e Tony Blair. Bom para juntar nomes importantes e grandes quantias em recursos, resta averiguar se a iniciativa de Clinton é transmutada, de fato, em ações capazes de fazer ? com a licença do leitor ? um mundo melhor.