Nem parecia o discretíssimo Stuart Cross. Ao lado de Pelé, na terça-feira 7, posando para os fotógrafos no hotel Sofitel, em Copacabana, o americano que preside a Coca-Cola do Brasil mais se assemelhava a um menino apaixonado por futebol ? e olha que futebol na terra dele é um negócio que se joga com uma bola oval e uma trave invertida. O presidente da Coca estava sorridente, com as bochechas rosadas, e chegou até a arriscar algumas ?embaixadas? ao lado do ?rei?. Só não pediu autógrafo porque ele e Pelé estavam tratando, ali, de negócios. O ex-jogador acaba de assinar um contrato com a multinacional que prevê parceria nas atividades relacionadas ao futebol. Além de posar como garoto-propaganda da marca de refrigerantes até 2003, incluindo nesse pacote a Copa de 2002, Pelé atuará como consultor de esportes da companhia. O valor do contrato não foi revelado mas, só este ano, deverá abocanhar boa parte do orçamento de R$ 200 milhões que a empresa reservou para investimentos em marketing.

Por enquanto, o contrato de Pelé com a Coca-Cola está limitado ao Brasil. As campanhas serão produzidas e exibidas aqui. Mas nada impede que outras filiais da companhia no mundo se interessem em fechar parceria com o atleta. ?Principalmente com a aproximação da Copa do Mundo?, lembra Fernando Mazarollo, vice-presidente de marketing da Coca-Cola. Pelé participará ainda das ações sociais e educacionais da fabricante de refrigerantes e será homenageado com uma grande exposição que percorrerá o País. A inauguração da mostra, que terá atrações como a bola do milésimo gol e a caixa de engraxate que fez parte da infância do craque, está prevista para fevereiro de 2002, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). De acordo com o sócio de Pelé, Hélio Viana, a mostra brasileira é o embrião de um projeto mundial. ?A idéia, mais do que apresentar a vida do mito, é revelar o Brasil daquela época, misturando histórias do futebol, dos ícones da bossa nova e de nossa cultura?, diz Viana. A exposição era um sonho antigo do ?rei?.

?Em qualquer lugar que eu vá, todos conhecem Jesus Cristo, Pelé e Coca-cola?, disse o craque, emocionado com as perspectivas da aliança com a multinacional. Deixemos Cristo fora dessa história. O que o casamento celebra, na verdade, é a união de
duas marcas poderosas. A primeira delas, a Coca-Cola, está
avaliada em US$ 83 bilhões, segundo a consultoria Interbrand.
No caso do ?atleta do século?, o nome imortalizado nos gramados virou rei também no merchandising. Calcula-se que a marca Pelé movimente US$ 30 milhões ao ano em contratos publicitários. O craque já vendeu de tudo: de vitaminas e cartões de crédito a telefone celular e refrigerantes. Entre seus parceiros estão
empresas como Nokia, Petrobras, Mastercard e Golden Cross,
além da Coca-Cola. Os negócios do ?rei? estendem-se também à Internet. No começo do ano, Pelé inaugurou seu site oficial em conjunto com o Zip.Net. Foram investidos R$ 20 milhões. Todos as operações estão sob o guarda-chuva da Pelé Sports&Marketing. A empresa cuida ainda de direitos de transmissão para tevê, promove eventos e faz a intermediação entre empresas e clubes, além de prestar consultoria para fundos internacionais interessados
em investir no esporte brasileiro.

Ao escalar em seu time o maior jogador de todos os tempos, a Coca-Cola fez um lance genial no campo do marketing esportivo. Há alguns meses, a fabricante perdeu para a AmBev o patrocínio da seleção brasileira (o que, hoje em dia, não é exatamente motivo de arrependimentos) e agora contra-ataca com o símbolo maior do futebol. Stuart Cross, da Coca, diz que foi um ?gol de placa? da empresa. Feito em tabelinha com Pelé.