O presidente do Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano de São Paulo, Valdevan Noventa, classificou como “traição” o anúncio feito nesta segunda-feira, 6, pelo prefeito João Doria (PSDB) de acabar “gradualmente” com a categoria de cobrador de ônibus na capital.

“É revoltante. O prefeito pediu voto da categoria na campanha e nós apoiamos ele. Depois vem dizer que vai desempregar a categoria que apoiou a candidatura dele. A gente vai tratar isso como traição”, disse Noventa, que pretende reunir os cobradores em assembleia na próxima quinta-feira, 9, para montar um “plano de luta” contra a proposta do prefeito.

“A gente vai se preparar para essa batalha, de manifestação e conscientização dos cobradores e da população sobre a importância desse emprego. O cobrador não é mero trabalhador, é um agente social dentro dos ônibus. Auxilia o motorista e a população, coíbe assaltos, abusos de passageiros, limpa os ônibus, ajuda a fazer manobras e em casos de acidentes”, diz o presidente do sindicato.

Doria disse que pretende acabar com a categoria como forma de reduzir os gastos da Prefeitura com subsídios ao sistema de transporte municipal, estimado em R$ 3,3 bilhões neste ano. O tucano negou, porém, que os cobradores ficarão desempregados.

“Não faremos de maneira repentina. Faremos gradualmente, sem nenhum prejuízo àqueles que são cobradores. Eles terão direito a preservação dos seus empregos, só que qualificados como motoristas”, disse o prefeito após chegar de ônibus no Terminal Bandeira, região central da cidade.

Cálculos feitos pela gestão Fernando Haddad (PT), que também cogitou acabar com os cobradores, apontam uma economia de R$ 800 milhões por ano com a extinção da categoria dentro dos ônibus. Segundo o sindicato, a capital tem cerca de 19 mil cobradores, que ganham R$ 1,5 mil de salário.

Para Noventa, contudo, a promessa de Doria de não demitir cobradores é “mentirosa”. “Ele não vai aumentar a frota de ônibus, pelo contrário. Não tem como empregar todos os cobradores em funções que já estão preenchidas, como motoristas, mecânicos e fiscais”, diz.

O sindicalista afirma ainda que os cobradores não podem pagar a conta pelo aumento dos custos do transporte coletivo municipal. “O transporte não está caro por causa do cobrador, está caro por causa das gratuidades dadas na gestão passada. Se a Prefeitura quer um transporte de qualidade, como diz o prefeito, não pode acabar com os cobradores”.