A coalizão militar liderada pela Arábia Saudita no Iêmen negou, neste sábado (22), a responsabilidade por um ataque aéreo que no dia anterior deixou pelo menos 70 mortos e cerca de 100 feridos em uma prisão controlada pelos rebeldes houthis, um ataque condenado pela ONU.

Desde 2015, a Arábia Saudita lidera uma coalizão que apoia as forças pró-governo iemenitas contra os rebeldes houthis próximos ao Irã.

Os rebeldes, que controlam grande parte do norte do país, culparam a coalizão pelo bombardeio.

Em mais de sete anos de guerra, todas as partes do conflito foram acusadas de “crimes de guerra” por especialistas da ONU. Implicada em vários incidentes, a coalizão militar reconhece “erros”, mas acusa os rebeldes de usar civis como escudos humanos.

A ONU vem tentando há vários anos acabar com esse conflito devastador que, segundo ela, matou 377.000 pessoas e levou uma população de 30 milhões à beira da fome.

O ataque a uma prisão em Saada, um reduto houthi no norte, matou pelo menos 70 pessoas e feriu 138, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Esta avaliação diz respeito apenas a um hospital da Saada, enquanto “dois outros estabelecimentos também receberam muitos feridos”. “As buscas continuam nos escombros”, acrescentou MSF.

Oito ONGs, incluindo Action Against Hunger, Oxfam e Save the Children, disseram em um comunicado conjunto que os mortos incluem migrantes, denunciando uma “indiferença flagrante” pela vida dos civis.

A coalizão, da qual os Emirados Árabes Unidos fazem parte, negou ter alvejado o centro de detenção de Saada, denunciando “desinformação” dos houthis.

Em um comunicado, citado pela agência de notícias oficial saudita SPA, a aliança militar anti-rebelde disse que examinou as alegações, antes de concluir que eram “falsas”.

Os rebeldes transmitiram um vídeo mostrando imagens apresentadas como consequências do ataque em Saada: prédios destruídos, equipes de resgate retirando corpos e cadáveres mutilados.

Os Estados Unidos pediram uma “desescalada”, enquanto o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, condenou “os ataques da coalizão liderada pela Arábia Saudita” e pediu “investigações eficazes”.

O Irã também condenou os ataques e alertou que os bombardeios tornariam o processo de paz “mais difícil” no Iêmen devastado pela guerra.

– Internet cortada –

Na quinta-feira, a coalizão confirmou, por outro lado, ter visado a cidade portuária de Hodeida nas mãos dos houthis, por onde transita a maior parte da ajuda internacional destinada ao país.

Pelo menos três crianças foram mortas enquanto “aparentemente estavam brincando em um campo de futebol próximo quando os mísseis caíram”, segundo a ONG Save the Children.

A coalizão disse que visou Hodeida como um “centro de pirataria e crime organizado”. Após o ataque, a internet foi cortada no país.

Na Arábia Saudita, as forças de defesa antiaérea interceptaram e destruíram na noite de sexta-feira um míssil disparado de Saada em direção à região de Khamis Mushait (sul), que abriga uma grande base aérea, segundo a coalizão.

Os ataques da coalizão se intensificaram nos últimos dias no Iêmen, depois que os houthis assumiram a responsabilidade pelos ataques que deixaram três pessoas mortas em Abu Dhabi, capital dos Emirados. O país do Golfo havia avisado que retaliaria.

Em 3 de janeiro, os houthis sequestraram um navio com bandeira dos Emirados no Mar Vermelho, aumentando ainda mais as tensões à medida que a coalizão ganha terreno nas províncias disputadas.

A coalizão alertou que bombardearia os portos de Hodeida.

Após a captura da capital Sanaa em 2014, os rebeldes conseguiram conquistar grandes áreas do território iemenita, principalmente no norte.