A coalizão internacional antijihadista dirigida pelos Estados Unidos anunciou, nesta sexta-feira (11), o início da retirada das tropas da Síria.

De acordo com o porta-voz, coronel Sean Ryan, “a coalizão começou o processo de retirada (…) da Síria”.

Segundo ele, “por preocupação com a segurança operacional, não discutiremos prazos, locais, ou movimentos de tropas”.

O diretor do Observatório Sírio dos Direitos humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, relatou que “forças americanas se retiraram na quinta-feira à noite da base militar de Rmeilan, na província de Hasaka”, no leste do país.

“Trata-se da primeira retirada das forças americanas desde que o presidente (Donald Trump) fez seu anúncio”, acrescentou o diretor do OSDH.

Além disso, o Exército americano já começou a retirar alguns equipamentos da Síria, disse à AFP um funcionário da Defesa, pedindo para não ser identificado.

“Posso confirmar o movimento de equipamentos da Síria. Por razões de segurança, não vou dar mais detalhes neste momento”, afirmou.

A remoção de equipamentos nos últimos dias foi relatada pela primeira vez pela rede CNN, que citou um funcionário da pasta ligado à operação. A fonte da emissora americana não detalhou a carga, nem como está sendo transportada.

Em dezembro, Trump disse que pretendia iniciar a retirada dos 2.000 soldados americanos estacionados na Síria. O presidente garantiu que o EI havia sido derrotado, o que justificaria o retorno do efetivo militar.

A coalizão tem outras bases no nordeste desse país, assim como no vizinho Iraque, onde o presidente ainda pretende manter suas tropas.

Foi criada em 2014, após a meteórica emergência do grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e sua conquista de grandes faixas neste país, do mesmo modo que no Iraque, criando um autoproclamado califado.

As Forças Democráticas Sírias (FDSs), uma milícia curdo-árabe que conta com o apoio de Washington, está tentando expulsar os extremistas do EI de seus últimos bolsões de resistência, no vale do Eufrates.

Vários países participam da coalizão, entre eles, Reino Unido e França. Ainda não se sabe se o início de retirada também incluirá as tropas francesas e britânicas no terreno.

“O presidente Trump tomou a decisão de retirar nossas tropas, e vamos fazer isso”, declarou ontem o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que está em uma ampla viagem pelo Oriente Médio, sem se referir a um cronograma.

A retirada anunciada por Trump deixa seus aliados curdos mais expostos do que nunca. Para garantir sua sobrevivência diante das ameaças turcas, tiveram de buscar amparo no governo de Bashar al-Assad, mesmo que às custas de seus planos de maior autonomia no norte do país.

Na quinta-feira, a Turquia voltou, inclusive, a reafirmar sua ameaça de uma ofensiva contra esses combatentes curdos da Síria, considerados por Ancara como “terroristas” e aliados dos curdos turcos do PKK.

Outro ponto é que a retirada parece ir contra a intenção dos EUA de conter a influência iraniana na região e de proteger Israel.

Segundo os observadores, o anúncio da retirada militar dos EUA deverá representar uma redistribuição de forças e de alianças nessa já complicada região.

“O dano já está feito. No terreno, o anúncio da retirada (dos Estados Unidos) tem os mesmos efeitos que se a retirada já tivesse acontecido”, afirma Fabrice Balanche, geógrafo especializado em Síria.

– Fuga em massa de refugiados

Cerca de 25.000 pessoas fugiram dos combates no leste da Síria, nos últimos seis meses, informou a ONU nesta sexta-feira.

Em nota, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) disse estar “profundamente preocupado com as informações sobre um número crescente de vítimas civis – entre elas inúmeras mulheres e crianças – e de deslocamentos em massa de populações civis no enclave de Hajin”, último bolsão do EI, na província de Deir Ezzor.

Segundo o Acnur, nos últimos seis meses, os confrontos e ataques aéreos no sudeste do território forçaram mais de 25.000 pessoas a fugir em busca de abrigo em acampamentos. A fuga se dá, muitas vezes, após passarem várias noites no deserto, expostas a duras condições climáticas, sem água e sem comida.

O Acnur estima que cerca de dois mil civis ainda estejam presos na zona afetada pelos combates ao redor de Hajin.