SÃO PAULO (Reuters) – Temperaturas mais baixas em setembro em grandes capitais brasileiras, como São Paulo e Rio de Janeiro, motivaram uma queda do consumo nacional de energia elétrica, que deve encerrar o mês com retração de mais de 4%, segundo projeção mais recente do operador do sistema elétrico ONS.

Além do clima mais frio e chuvoso, que reduz o acionamento de ar condicionado, especialistas apontam que o comportamento da carga de energia vem sendo influenciado pelo crescimento modesto da atividade econômica e pela forte expansão da geração solar distribuída em telhados e fachadas, que não passa por monitoramento preciso do ONS.

Dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) enviados à Reuters mostram que, em setembro até o dia 27, as temperaturas em grandes capitais brasileiras tiveram diferenças expressivas na comparação com igual mês de 2021.

Em São Paulo, a temperatura máxima foi de 21,6°C no mês, ficando 5,4°C abaixo do registrado ano passado. No Rio de Janeiro, a temperatura máxima, de 24,9°C, é 2,4°C inferior a de um ano antes.

“As temperaturas em São Paulo e Rio de Janeiro, maiores centros consumidores do país, estiveram 1°C abaixo da média histórica”, acrescentou a CCEE.

Cenário semelhante foi visto nas capitais da região Sul. Em Curitiba, por exemplo, a diferença das temperaturas máximas ante setembro de 2021 alcançou 5,36°C.

Já no Nordeste, a CCEE disse que verificou chuvas superiores a 2021 em áreas com impacto expressivo para a redução do consumo. As temperaturas nas capitais da costa leste, entre elas Salvador e Recife, apresentaram valores abaixo da média histórica e inferiores a 2021.

A frustração na expectativa para as variáveis de temperatura e chuvas ao longo de setembro levou a sucessivas revisões das projeções de carga por parte do ONS. Atualmente, o órgão prevê uma queda de 4,2% para o indicador.

Os dados de setembro mantêm o padrão de agosto, quando a carga teve crescimento de apenas 0,3% no comparativo anual devido à ocorrência de temperaturas na média ou abaixo da média nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e chuvas acima da média no Sul e em grande parte do Nordeste.

Na última projeção oficial, divulgada no início de agosto, o governo estimou um crescimento de 2,0% da carga de energia elétrica em 2022, sustentado por um desempenho da atividade econômica melhor que o esperado.

GERAÇÃO DISTRIBUÍDA SOLAR

A geração distribuída solar vem se destacando neste ano, com avanço acelerado nas instalações de painéis solares em residências, comércios e indústrias. Essa tendência tem impactado as previsões de órgãos de operação e planejamento do sistema elétrico, já que esses sistemas distribuídos, onde o consumo está atrelado à geração, não são monitorados diretamente.

“A geração distribuída tira um consumo que é bem aquele do início da tarde, entre 14h e 15h, que era bem o pico do sistema elétrico. O pico voltou a ser mais no fim do dia. A GD ficou realmente muito relevante no atendimento do consumo”, afirmou Donato da Silva Filho, fundador da consultoria Volt Robotics.

Recentemente, o ONS iniciou estudos sobre uma possível volta do horário de verão, principalmente por causa dos impactos da geração distribuída ao sistema elétrico.

Erico Mello, sócio-fundador da comercializadora Stima Energia, destacou que o crescimento da geração distribuída solar tem superado as expectativas do mercado, principalmente por uma corrida dos consumidores para aproveitar benefícios do novo marco regulatório do segmento.

Já do lado da atividade econômica, que também dita o ritmo da carga de energia, Mello destacou alguns sinais positivos de retomada principalmente em setores exportadores, como minerais metálicos e madeira e celulose, além de um aumento do consumo do setor de saneamento.

(Por Letícia Fucuchima)

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