Qual é a sua definição de um bom gerente? Em tese, é aquele que oferece o melhor tipo de investimento para o cliente, conforme seu perfil de risco, seus planos e sua disponibilidade de recursos.

Infelizmente, nem sempre isso acontece e o investidor acaba aplicando em ativos que interessam mais ao banco e ao gerente do que a ele mesmo. É o que indicam os números do mercado financeiro. A pedido da DINHEIRO, a Economática fez um raio X da indústria de fundos no Brasil e constatou que a maior parte dos recursos é direcionada para a compra de títulos públicos e privados, como os CDBs.

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De um total de R$ 1,3 trilhão aplicado em fundos de renda fixa, variável ou mista, 81%, em média, são aplicados em papéis do Tesouro e dos bancos. Feitas as contas, descobre-se que muitos clientes de varejo estariam ganhando mais dinheiro se fugissem dos fundos oferecidos pelos gerentes e aplicassem diretamente nos títulos de renda fixa – inclusive das próprias instituições em que mantêm as aplicações. 

O fato é que os fundos DI e renda fixa, os instrumentos de poupança mais populares do País, com R$ 780 bilhões, não são uma aplicação competitiva. A maior parte deles perde em rentabilidade para os CDBs.

Tome-se, por exemplo, o percentual do CDI (a principal referência de remuneração) nos dois tipos de ativos. Quem tem acesso a fundos com taxa de administração de 2% obtém, em média, um ganho equivalente a 68,13% do CDI, bem menos do que ganharia em um CDB emitido por um dos cinco maiores bancos em atividade no mercado brasileiro.

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Levantamento da DINHEIRO junto a Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa mostrou que essas instituições oferecem rendimento de 80% a 95% do CDI em CDBs para clientes que queiram investir R$ 100 mil.

A taxa depende do valor da aplicação, do prazo para o resgate e do relacionamento com a instituição. Aqui, vale aquela máxima de que quanto mais tempo o dinheiro ficar aplicado, maior será o retorno.

Mas o grande fiel da balança é a taxa de administração de cada fundo. Quanto maior ela for, menor será a rentabilidade líquida no final (leia tabela Tesoura no Ganho, na pág. 98). “Os CDBs rendem de maneira semelhante aos fundos de renda fixa e DI. Mas é a taxa de administração que vai determinar a melhor opção para o investidor”, diz William Eid Jr., professor de finanças da FGV.

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Os estragos da taxa de administração ficam mais evidentes na comparação entre fundos populares de varejo, que têm aplicação inicial a partir de R$ 100. São eles que concentram o maior número de cotistas e estão disponíveis na prateleira dos grandes bancos.

Há muita discrepância entre os dez maiores fundos: a cobrança pode ir de 1% a 5% ao ano (leia tabela). O BB Ref. DI Estilo FICFI cobra 1% de taxa de administração e rendeu 91% do CDI em dois anos. Já o Santander FICFI Classic Ref DI desconta 5% e entregou somente 48% do CDI – pouco mais da metade do seu concorrente – no mesmo período. A diferença sai do bolso do investidor. Então, o que fazer?

Uma saída mais cômoda é negociar com o gerente do banco, antes de procurar outro. A solução pode estar ali mesmo. “A falta de rentabilidade de um investimento exige a transferência dos recursos para a poupança, outro fundo ou um CDB.
 

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Paschoarelli, do Insper: ”As alternativas para melhorar a 
rentabilidade estão dentro do próprio banco”

 

As alternativas estão dentro do próprio banco”, diz Rafael Paschoarelli, professor de finanças do Insper. Segundo as teorias das finanças comportamentais, a maior parte dos investidores esquece a rentabilidade em nome da sensação de segurança.

Na prática, eles perdem um dinheirão, mas preferem a proteção de um rendimento pequenininho. É verdade que o risco dos fundos, que investem em vários papéis, é menor que o de um CDB de um único banco. Porém, existe cobertura do Fundo Garantidor de Créditos para títulos bancários e poupança, até o valor de R$ 60 mil por CPF e por instituição. Os fundos não têm proteção desse seguro oficial.

Ao contrário do que pode parecer, também é possível encontrar fundos DI e renda fixa com performances mais interessantes do que os CDBs. Aqueles com os maiores patrimônios líquidos, por exemplo, conseguem entregar aos seus cotistas praticamente 100% do CDI (leia quadro os 10 fundos com maior patrimônio).

Mas há duas diferenças fundamentais: o número reduzido de cotistas (muitos deles são praticamente exclusivos) e a taxa de administração menor que 1%. “Esses fundos sabem exatamente o perfil e o plano do investidor, programando o prazo da aplicação”, afirma Keyler Carvalho Rocha, professor de finanças da FEA-USP.

Em fundos com um número maior de cotistas, fica difícil conseguir essa proximidade, o que obriga o gestor a deixar uma parte do patrimônio disponível para saques. O que vai fazer diferença, portanto, é a taxa de administração. “O cliente deve lutar por uma rentabilidade maior e evitar que o banco ganhe mais dinheiro que ele”, diz Paschoarelli.