A segunda noite de desfiles da elite do Rio acontece a partir das 21h15, no sambódromo carioca. As duas exibições cercadas de maior expectativa são de Mangueira e Portela, também as duas escolas de maior torcida. O samba da Mangueira cita a vereadora carioca Marielle Franco, assassinada há um ano, e se popularizou de forma inédita na década – é dos mais cantados em blocos de rua. A escola vai contar a história do Brasil do ponto de vista de heróis populares que não figuram nos livros didáticos. O samba da Portela já não faz tanto sucesso, mas o enredo rende muitos aplausos ao homenagear Clara Nunes.

O tom de crítica social é o mesmo que fez sucesso no desfile do ano passado, quando a Beija-Flor foi campeã – com um enredo sobre as mazelas do Brasil -, a Paraíso do Tuiuti alcançou o vice-campeonato – criticando os políticos e exibindo um presidente da República com feições de vampiro, menção velada a Michel Temer (MDB) – e a Mangueira fez críticas ao prefeito.

Logo de início, a São Clemente vai repetir sua exibição de 1990, “E o Samba Sambou”, uma crítica cada vez mais atual às mudanças que a profissionalização do desfile impôs às agremiações. Haverá menção ao troca-troca de carnavalescos, intérpretes e outros profissionais, ditado pelo dinheiro, e aos camarotes organizados por empresas, que oferecem atrações musicais próprias e deixam as escolas em segundo plano.

Em um carro alegórico estará retratada a dupla César Menotti e Fabiano – em 2018, Menotti afirmou que samba era “coisa de bandido” e depois se desculpou. Também não faltarão críticas ao prefeito Marcelo Crivella, que cortou 75% da verba distribuída às escolas. Um dos carros alegóricos estará propositalmente incompleto, em alusão à falta de dinheiro.

A Vila Isabel, na sequência, vai exaltar a cidade de Petrópolis, e as expectativas são as estreias do carnavalesco Edson Pereira, campeão da Série A (segunda divisão) em 2018 pela Viradouro, e do coreógrafo Patrick Carvalho, muito aplaudido pela comissão de frente da Paraíso do Tuiuti.

Rosa

Na Portela, a tarefa de homenagear Clara Nunes foi atribuída à campeoníssima Rosa Magalhães, sete vezes vencedora do desfile (1982, 1994, 1995, 1999, 2000, 2001 e 2013). Além de retratar a vida da cantora, a escola também vai exaltar Madureira, bairro da zona norte onde a escola tem sede.

Já a União da Ilha vai falar sobre o Ceará, usando as obras de Rachel de Queiroz (1910-2003) e José de Alencar (1829-1877), ambos nascidos em Fortaleza. Cerca de 15 mil peças do artesanato local vão decorar carros e fantasias. E o Ceará também estará presente no desfile da Paraíso do Tuiuti, que, mantendo a temática aplaudida no ano passado, desta vez vai criticar os políticos por meio do bode Ioiô, “eleito” vereador em Fortaleza em 1922. Um carro alegórico vai retratar políticos de terno e gravata, mas com cabeças de ratos, porcos, moscas e outros bichos. Uma ala exibirá a disputa entre o “bode da resistência” e “coxinhas”, os críticos da esquerda.

Sob o comando do talentoso carnavalesco Leandro Vieira, a Verde e Rosa – cujo presidente, o deputado estadual Chiquinho da Mangueira, está preso desde novembro acusado de envolvimento em um esquema de propinas – vai homenagear personagens que ajudaram a construir a história do Brasil, mas não foram reconhecidos. Em geral, são índios, negros e pobres.

Além de Marielle (negra oriunda de uma favela e casada com outra mulher que ganhou destaque ao defender minorias na Câmara Municipal), o enredo menciona personagens como Dandara, mulher de Zumbi dos Palmares, e Chico da Matilde, abolicionista que em 1881, no Ceará, liderou uma resistência contra a escravidão. Por fim, o desfile será encerrado pela Mocidade, que vai discorrer sobre o tempo e as formas criadas pelo homem para controlá-lo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.