O Citibank descobriu que pode ganhar dinheiro também com a clientela de baixa renda. O banco, identificado na América Latina como uma instituição de elite, iniciou uma ofensiva para se tornar um dos líderes regionais no negócio de crédito direto. No México, o segundo maior mercado ao sul dos Estados Unidos, o grupo arrematou a terceira maior financeira, a Crédito Familiar. Na Argentina, levou também uma das maiores, a Provencred. E pôs o pé no Chile comprando a líder do mercado local, a Atlas. Para consolidar a ofensiva sobre o segmento, falta agora entrar no carro-chefe da região, o Brasil. Lacuna que pode não ficar aberta por muito tempo. ?Se a economia brasileira mostrar que pode crescer 4% por três anos seguidos, nós vamos partir já para a classe C?, afirma o vice-presidente executivo de consumer business do Citibank para a América Latina, Álvaro de Souza. Foi esse o fator que levou o grupo a escolher México, Chile e Argentina como porta de entrada para a região. O crescimento nesses países foi mais consistente durante a década e animou o banco a tentar apostas mais altas. É jogo grande. A financeira do Chile tem um cadastro de 500 mil pessoas. É um volume tão significativo quanto o da operação que o banco possui hoje no Brasil.

No País, adianta o executivo, a idéia é entrar de cara também entre os líderes do mercado. ?O único jeito é comprando alguém. Não é o tipo de negócio que se pode montar dentro de casa?, analisa. O grupo não tem pressa, mas está disposto a não deixar passar chances de negócio. Um funcionário foi destacado para passar os dias rastreando oportunidades de fusões e aquisições na América Latina.

A placa do banco, observe-se, jamais vai ser vista em uma loja de crédito pessoal. Nos países onde entrou, o grupo preservou vivas as marcas que adquiriu e manteve as operações isoladas do banco. A separação, segundo Souza, faz bem à saúde dos dois negócios. ?Os consumidores de baixa renda se intimidam diante da placa Citibank?, constata o executivo. Já o típico cliente do banco pode se sentir incomodado ao ver a instituição abrir os braços para a baixa renda. ?Pesquisas nos demonstraram que ter acesso à marca Citi é uma aspiração dos clientes na América Latina. Temos de preservar isso?, afirma o vice-presidente.

Terreno fértil para fazer sua entrada no Brasil o Citi deverá encontrar. O mercado em que atuam as financeiras vem crescendo aos saltos. Cálculos de consultores indicam que o mercado passou de algo como R$ 15 bilhões ao fim do primeiro ano do Real para R$ 74 bilhões no ano passado. Os resultados nos balanços, porém, não têm sido encorajadores, porque a competição pesada tem espremido as margens de lucro. A líder Fininvest, dos grupos Unibanco e Icatu, passou quatro anos zerada ou no vermelho e só agora vislumbra a possibilidade de voltar a lucrar. A Losango, do Lloyds Bank, ainda não saiu do negativo. Destaque de lucratividade só a Panamericano, terceira colocada, especializada em empréstimo pessoal para classe D. É a única que não pertence a um conglomerado financeiro ? é do grupo Sílvio Santos. A quarta é a financeira do banco Cacique.
?As financeiras vão mal quando a economia vai mal. Mas, quando a economia vai bem, crescem o suficiente para compensar a queda de rentabilidade que normalmente se abate sobre as tesourarias dos bancos?, explica Rafael Guedes, diretor da Fitch no Brasil. Um executivo do setor diz que é possível ganhar dinheiro até com inadimplência de 15%. O cliente com renda até R$ 10 mil ao ano leva muito a sério o seu crédito na praça. ?Esse tipo de pessoa sai do mercado consumidor se ficar sujo no SPC?, explica. O maior negócio das financeiras no País ainda é o crédito para a compra de automóveis, que responde por metade do valor total das carteiras ? mas é o ramo de rentabilidade mais reduzida dentre todos. O filé está nos empréstimos pessoais e no CDC, o crediário em lojas, que responde por 34% do mercado.