(Reuters) – O Citi reiterou expectativa de que o dólar voltará a subir até o fim do ano para 5,58 reais, justificando a previsão pela leitura de que o Brasil seguirá com uma conta financeira do balanço de pagamentos pressionada, que mais do que compensará o superávit previsto para a conta corrente.

Thais Ortega, Leonardo Porto e Paulo Lopes, que assinam relatório publicado nesta quinta-feira, explicaram que existe evidência empírica sugerindo haver feedback da conta financeira para a taxa de câmbio e da taxa de câmbio para a conta corrente.

Itaú BBA prepara criação de trading agrícola; anuncia contratação de ex-Cargill

Por essa lógica, riscos domésticos e choques globais geram saídas de capital refletidas na conta financeira, o que normalmente leva a um real mais fraco. Essa taxa de câmbio mais depreciada, por outro lado, beneficia a conta corrente, uma vez que aumenta a competitividade do Brasil num ambiente de recuperação econômica global e valorização das commodities.

“Portanto, vemos espaço para um real desvalorizado no final do ano mesmo com superávit em conta corrente”, disseram.

Os profissionais lembram que durante o “boom” das matérias-primas anos atrás o real se valorizou junto com melhora da conta corrente, o que pode ter criado uma falsa interpretação de que performances positivas nas transações correntes necessariamente resultariam numa taxa de câmbio mais forte.

No entanto, eles lembram que nesse período a conta financeira também mostrou números mais robustos num mundo de juros mais altos, demanda agregada nas máximas e aversão global a risco nas mínimas, o que beneficiou o balanço de pagamentos do Brasil de todos os lados.

Para este ano, a conta financeira seguirá patinando, segundo o Citi, o que explica a expectativa de real mais fraco. Os profissionais do banco citam que os empréstimos intercompanhia mal têm compensado a redução dos reinvestimentos pelas empresas e que o investimento direto no país (IDP) até vai se recuperar ante 2020 (subirá de 34,2 bilhões de dólares para 44,1 bilhões de dólares), mas seguirá distante da média de 80 bilhões de dólares entre 2010 e 2019.

Além disso, do lado dos investimentos em carteira, ainda há impactos decorrentes dos fatores domésticos e externo de incerteza. O Citi lembra que o índice do dólar contra uma cesta de moedas globais deverá subir mais neste ano, diante de perspectivas de normalização monetária nos Estados Unidos, o que eleva riscos de novas saídas de capitais do Brasil.

“Ao contrário das perspectivas atualmente construtivas para a conta corrente, os fundamentos macroeconômicos (taxas de crescimento mais baixas, taxas de juro mais baixas, maior avaliação do risco, perspectivas de fortalecimento do dólar à frente) dificultam um melhor desempenho da conta financeira, especialmente nos investimentos de carteira.”

“Em outras palavras, significa menos recursos financeiros externos entrando na economia e reforça nosso cenário de dólar a 5,58 reais até o final de 2021”, concluiu o Citi.

O dólar à vista era negociado em torno de 5,27 reais nesta quinta-feira.

 

(Por José de Castro)

tagreuters.com2021binary_LYNXNPEH4Q122-BASEIMAGE