Ciro Gomes é um homem explosivo, com fama de boquirroto. Mas este líder de um poderoso clã familiar do Ceará, que foi prefeito, governador, deputado e ministro, está tentando se controlar para chegar à Presidência, em sua terceira investida ao cargo.

Este advogado de 60 anos, que passou por quase todo o espectro de partidos, agora tenta acenar com a bandeira da centro-esquerda para preencher, nas eleições de outubro, o vácuo deixado pelo ex-presidente Lula, favorito nas pesquisas de intenção de voto mesmo depois de ter sido preso.

Ciro foi ministro da Fazenda em 1994, no primeiro ano de aplicação do Plano Real, mas agora é visto como um perigoso “populista” por muitos operadores do mercado por suas promessas de eliminar o teto de gastos públicos e voltar atrás na abertura do setor petroleiro.

Sua passagem posterior como ministro da Integração Nacional de Lula, entre 2003 e 2006, e seu compromisso com os mais pobres levam muitos eleitores da esquerda e verem nele uma opção diante da muito provável invalidação da candidatura do ex-presidente, que cumpre pena de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro.

Mas ele também desperta o receio no eleitorado de Lula e as pesquisas não o situam como o principal beneficiário eventual de seus votos.

Caetano Veloso está entre seus apoiadores mais ilustres.

“Assim vou me preparando para, com mais firmeza, votar em Ciro Gomes, como uma homenagem a Lula, ao FHC do real, aos esforços para engrandecer o Brasil”, declarou o cantor.

Sem falsa modéstia, este cacique nordestino diz ser o político “experiente, honesto e com autoridade” que o País precisa para superar a crise e a polarização.

“A mim me toca agora, talvez, nesse campo progressista, a responsabilidade maior de não deixar o Brasil descambar para o retrocesso”, declarou em junho.

– Um ‘macho’ nordestino –

Nascido em Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, mudou-se aos 4 anos para o Ceará, estado governado por sua família há tempos. Como herdeiro do clã iniciado por seu pai, Ciro Gomes se tornou, em 1989, o prefeito mais jovem de Fortaleza e, depois, um elogiado governador (1991-1994), cargo que anos depois foi ocupado por seu irmão, Cid.

Foi pesquisador visitante na Universidade de Harvard, mas é por sua veemência e sua língua afiada – especialmente quando é interrompido ou contrariado – que ficou mais conhecido.

Chegou a dizer em uma explosão de raiva que Lula era um “merda”, referiu-se ao presidente Michel Temer como “ladrão fisiológico” e aos policiais como “marginais fardados”.

“O mais letal inimigo do candidato é a própria cabeça”, escreveu o jornalista Augusto Nunes na revista Veja.

Sua incontinência verbal lhe rendeu mais de 70 processos judiciais.

Sua vida particular, enquanto isso, tem sido bastante agitada.

Pai de quatro filhos, Ciro Gomes mora agora com sua quarta companheira conhecida: Giselle Bezerra, produtora de TV de 39 anos e ex-bailarina da Xuxa.

Em 2002, quando era casado com a atriz Patrícia Pillar, disse que se fosse eleito presidente, o papel da primeira-dama seria simplesmente dormir com ele.

Ao admitir ter se criado em um ambiente “machista”, o candidato assegura que essa “brincadeira” provavelmente foi “o maior erro” da sua vida.

– Distanciado do PT –

Embora Ciro não se canse de denunciar como golpe o impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, ele também critica a corrupção no PT.

É candidato às presidenciais de outubro pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), depois de disputar a Presidência em 1998 e 2002 pelo PPS, antigo Partido Comunista.

Previamente, pertenceu ao PSDB do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e nos anos 1980, durante a ditadura militar, ao MDB de Temer.

Agora, Ciro Gomes busca alianças com partidos tanto de esquerda quanto de direita, com o objetivo de derrotar o deputado Jair Bolsonaro, a quem chama de “transloucado, extremista, fascistoide”, primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto sem a presença de Lula.

“Eu não sou candidato a madre superiora do convento (…) Eu preciso viabilizar eleição porque a tragédia se aproxima do Brasil”, explicou.

Amante da grandiloquência, confessou recentemente: “Eu quero mexer na história do Brasil, eu quero ajudar o Brasil a se reencontrar com a sua felicidade”.