Uma pesquisa espanhola identificou uma variante genética que determina o prognóstico de pacientes com Covid-19 em estado crítico, podendo ser fundamental para a sua sobrevivência, segundo o jornal espanhol El Mundo.

Em causa está um estudo “observacional”, liderado pelo Centro de Pesquisas da Rede de Doenças Respiratórias (Ciberes), em conjunto com o Instituto de Pesquisa em Saúde do Principado (ISPA), da Universidade de Oviedo e do Instituto de Oncologia das Astúrias (HUCA), em 240 pacientes, que foram acompanhados durante toda a internação.

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Uma das principais conclusões tiradas da análise ao polimorfismo identificado pelos pesquisadores foi que “a evolução desses pacientes gravemente doentes, que geralmente precisam de ventilação mecânica, depende da forma como o seu sistema imunológico responde à infeção por SARS-CoV-2”.

Daí se concluiu que “uma resposta inflamatória descontrolada pode causar danos ainda maiores aos pulmões ou a outros órgãos vitais, através de mecanismos inicialmente destinados a resolver o quadro”.

Para limitar essa resposta inflamatória, os médicos usaram a dexametasona. Trata-se de um corticosteróide que, como foi demonstrado pela experiência adquirida nestes quase dois anos de pandemia, melhora as chances de sobrevivência dos pacientes que desenvolvem infecção moderada ou grave por coronavírus.

O trabalho científico indica que o polimorfismo identificado “é uma variante do gene IFIH1, que codifica uma proteína, MDA5, responsável pelo reconhecimento do genoma viral no citoplasma da célula”.

Esta é a explicação técnica. Mas para que consiga entender melhor, “após a sua união ao vírus, é desencadeada uma resposta inflamatória mediada por interferons que depende da variante genética que o paciente carrega”. Assim, pacientes com genótipo TT têm uma resposta inflamatória atenuada e, portanto, melhor prognóstico do que indivíduos com genótipo CC/CT.

Para caracterizar a resposta inflamatória de cada genótipo – coleção de genes que uma pessoa apresenta -, foi realizado um sequenciamento massivo de RNA no sangue, o que permitiu identificar diferenças significativas entre mais de 150 genes.

“Os resultados deste estudo podem ter um grande impacto na prática clínica atual em pacientes Covid, pois significariam individualizar o tratamento farmacológico de acordo com o genótipo, caso estas descobertas sejam confirmadas num ensino clínico”, destacam os pesquisadores.

O estudo, publicado na revista científica Elife, foi possível graças à colaboração de diferentes serviços do HUCA, a ponto de identificar a variante genética que pode ser decisiva na sobrevivência dos pacientes internados nas unidades de tratamento intensivos (UTI).