Cientistas anunciaram nesta segunda-feira (15) que encontraram uma possível causa da epidemia que matou 15 milhões de pessoas no México há 500 anos, ao atribuí-la a uma febre tifoide.

Em 1545, no fim do Império asteca, muitas pessoas começaram a apresentar febre alta, dores de cabeça e sangramento nos olhos, boca e nariz. Em geral, morriam em três ou quatro dias.

Cinco anos depois, a epidemia, conhecida como “cocoliztli” (peste) tinha matado 80% da população estimada.

Sua causa, pesquisada desde então, foi apontada por um grupo de cientistas em um estudo publicado na revista científica Nature Ecology & Evolution.

Após descartar varíola, sarampo, caxumba e gripe, os pesquisadores apontaram uma “febre entérica”, baseando-se em análises de DNA dos dentes de várias vítimas.

“O cocoliztli foi uma das muitas epidemias que afetaram o México após a chegada dos europeus, mas foi especificamente a segunda das três epidemias mais devastadoras e levou ao maior número de perdas humanas”, disse à AFP Ashild Vagene, da Universidade de Tubinga, na Alemanha.

“A causa desta epidemia tem sido debatida por mais de um século pelos historiadores, e agora somos capazes de fornecer evidências diretas através do uso de DNA antigo para contribuir com uma questão histórica de longa data”, acrescentou.

O cocoliztli é considerado uma das piores epidemias da história da humanidade, atrás da peste negra, que matou 25 milhões de pessoas na Europa ocidental no século XIV, ou seja, quase metade da população da região.

Os colonizadores europeus propagaram doenças ao entrar no Novo Mundo, trazendo germes completamente desconhecidos para as populações locais, que não contavam com nenhum tipo de imunidade para combatê-los.

A “peste” de 1545 que atingiu o que é o México atual e parte da Guatemala chegou apenas duas décadas depois de que uma epidemia de varíola matou entre cinco e oito milhões de pessoas, imediatamente após a chegada dos espanhóis.

– ‘Um candidato forte’ –

Um segundo surto de “cocoliztli”, entre 1576 e 1578, matou metade do resto da população.

Os cientistas analisaram o DNA extraído de 29 esqueletos enterrados em um cemitério de mortos por “cocoliztli” e detectaram vestígios da bactéria salmonella enterica, da variedade Paratyphi C, conhecida por causar febre entérica, como a tifoide. O subtipo mexicano raramente causa infecções em humanos hoje.

Muitas cepas da salmonela se espalham por meio de alimentos ou água infectados, e podem ter viajado para o México em animais domesticados trazidos pelos espanhóis, disse a equipe de pesquisadores.

A salmonella enterica esteve presente na Europa na Idade Média.

“Testamos para todas as bactérias patógenas e vírus dos que temos dados genômicos”, e a salmonella enterica foi o único germe detectado, afirmou Alexander Herbig, também da Universidade de Tubinga.

É possível, no entanto, que alguns agentes patogênicos sejam indetectáveis ou completamente desconhecidos.

“Não podemos dizer com certeza que a salmonella enterica tenha sido a causa da epidemia de cocoliztli”, disse Kirsten Bos, participante no estudo. “Acreditamos que deve ser considerado um candidato forte”.