Reciclar a urina pode vir a ser uma tendência no futuro – e a sua eficácia já foi objeto de estudo por várias equipes internacionais de pesquisadores. Os cientistas acreditam que o aproveitamento da urina numa escala global pode pode trazer vários benefícios ambientais como, a redução das emissões de carbono, a economia de água, a melhoria da gestão das águas residuais e da produção de alimentos.

Mas estas experiências não são totalmente uma novidade: como é rica em nutrientes, a urina tem sido utilizada há milhares de anos como fertilizante de culturas agrícolas.

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Em 2020 uma equipe da Universidade de Michigan, nos EUA, realizou uma pesquisa onde analisou e comparou os impactos ambientais do tratamento convencional das águas residuais, ao utilizar a urina para produção de fertilizantes agrícolas. Os resultados demonstraram que a reciclagem deste líquido permitiu reduzir as emissões de gases com efeito estufa entre 26% a 64% – dependendo da categoria em análise -, correspondentes ao consumo de água, à quantidade de energia utilizada e ao potencial de alimentar a proliferação de algas nocivas em lagos. A alternativa permitiu assim utilizar menos energia e produtos químicos no tratamento das águas, e diminuiu o fluxo de nutrientes que contribuem para a proliferação das algas.

Por outro lado, começou em 2021 na Suécia uma experiência que, nos próximos três anos, pretende recolher 70 mil litros de urina. O grupo da Universidade de Ciências Agrárias da Suécia, que está ligado à empresa Sanitation360, está recolhendo urina e a transformando depois em grãos de fertilizante para plantaçções de cevada, que mais tarde se tornará cerveja. A ideia surgiu como objetivo de resolver problemas a que a ilha de Gotland está exposta, como a escassez de água doce e a poluição dessas massas de água provocada pela agricultura, mas também a proliferação de algas nocivas no Mar Báltico, resultantes dos sistemas de esgotos.

Como relatou Prithvi Simha, diretor de tecnologia da Sanitation360, à revista científica Nature, os humanos produzem urina suficiente para substituir cerca de um quarto dos atuais fertilizantes de nitrogênio e fósforo do mundo inteiro. Para a equipe, o objetivo é desenvolver um modelo que possa ser praticado em todos os lugares do mundo.