O Ministério Público alemão anunciou nesta segunda-feira (21) a prisão de um cientista russo acusado de passar para a Rússia informações sensíveis de uma universidade do país, em troca de dinheiro.

Identificado como Ilnur N., o suspeito foi detido na sexta-feira (18), sob suspeita de “trabalhar para um serviço secreto russo pelo menos desde o início de outubro de 2020”, informou o órgão em um comunicado.

O homem trabalhava como assistente de pesquisa em uma universidade alemã. Entre outubro e junho, reuniu-se “pelo menos três vezes” com um agente dos serviços russos de Inteligência, segundo a mesma fonte.

Em pelo menos dois desses encontros, ele “deu informações” sobre a universidade e “recebeu quantias em dinheiro em troca”, acrescentou.

O MP não deu mais detalhes sobre o homem, nem sobre a universidade para a qual trabalhava.

A polícia realizou uma operação de busca na casa e no local de trabalho do suposto espião, que compareceu no sábado perante a Justiça e foi colocado em prisão provisória.

Questionada sobre isso em uma coletiva de imprensa, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores não quis comentar o ocorrido.

A Rússia também não reagiu a essa detenção, que ameaça complicar ainda mais as já tensas relações entre as duas potências pelo conflito na Ucrânia e pelas acusações de ciberespionagem contra Moscou.

A tentativa de envenenamento do opositor Alexei Nalvany em agosto passado, pela qual governos ocidentais responsabilizam Moscou, também contribuiu para deteriorar ainda mais as relações.

Quando estava em coma, Navalny foi transferido para um hospital de Berlim, onde médicos alemães diagnosticaram um envenenamento por uma substância do tipo Novitchok. Este produto neurotóxico foi desenvolvido para fins militares na época soviética.

Angela Merkel e Vladimir Putin mantiveram uma relação difícil, apesar de a chanceler, que deixará o cargo após as eleições legislativas de 26 de setembro, ter buscado manter a comunicação aberta.

– Espionagem russa se intensifica –

Nos últimos anos, os serviços russos de Inteligência registraram um aumento em suas atividades na Europa, de acordo com especialistas.

No final de março, a Itália anunciou a expulsão de dois funcionários russos. Neste caso, um oficial da Marinha italiana foi preso em flagrante, quando entregava documentos confidenciais para um militar russo.

Vários diplomatas russos acusados de espionagem foram expulsos nos últimos meses de Bulgária, Holanda, Áustria, França e República Tcheca. Em cada uma dessas ocasiões, Moscou respondeu proporcionalmente e denunciou acusações infundadas e “russofóbicas”.

Em fevereiro deste ano, a Justiça alemã acusou um cidadão de ter transmitido dados sobre a Câmara dos Deputados para a Rússia. O sujeito trabalhava para uma empresa contratada em várias ocasiões pelo Bundestag para realizar controles de seus laptops.

Acusado pelo MP, este alemão pode ser julgado, se o tribunal competente der sinal verde.

A Rússia também foi acusada em 2015 de um ataque informático em grande escala que teria como alvo os computadores do Bundestag, da Chancelaria alemã, da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da rede de televisão francesa TV5 Monde.

O ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, alertou para eventuais tentativas de desinformação por parte da Rússia para as eleições legislativas de setembro, advertindo que seriam “completamente inaceitáveis”.

Em meio a tantos desacordos, Alemanha e Rússia fazem uma frente comum e defendem com unhas e dentes a seu projeto de gasoduto Nord Stream 2. Esta infraestrutura deve unir ambos os países, apesar da oposição dos Estados Unidos.