Ciência vence profundezas Chega a ser emblemático — e trágico — que a véspera do Dia de Finados trouxesse as melhores notícias sobre o número de vítimas de Covid-19 do Brasil. A média móvel semanal de mortes após os dois primeiros dias de novembro ficou em 296 (dia 1) e 261 (dia 2). O número não estava abaixo de 300 desde abril de 2020. Uma curva que imbicou para baixo por causa de dois fatores: máscaras e vacinas. E que levou exatos 600 dias para ocorrer, desde a primeira vítima fatal no País, a diarista Rosana Urbano, 57 anos.

Moradora do extremo da Zona Leste paulistana, ela havia sido internada dia 11 de março. Morreu dia 12. No dia 16, morreu a mãe de Rosana. Morreriam ainda o pai, uma irmã e um irmão. A doença, perversamente, escancarou que em termos de desigualdade somos uma nação insuperável. Estudo feito pela Rede Nossa São Paulo mostra que na capital paulista a taxa de mortalidade para internados com Covid-19 (enfermaria ou UTI) é de 15,8% em Moema (bairro nobre) e de 35,2% em Cidade Tiradentes, onde morava a diarista.

O fenômeno se repete por todo o País. Mesmo entre estados pobres e ricos a distorção é evidente. Em números relativos, São Paulo é o que mais vacinou com pelo menos uma dose (83,1%) e o segundo que aplicou pelo menos duas doses (67,7%), atrás do Paraná (69,7%), nos dados consolidados até quarta-feira (3). Entre os três no fim da fila estão Pará, Amapá e Roraima. No mundo, igual. O dinheiro e a riqueza distorcem a equidade no combate à pandemia. Os países do G20 receberam 15 vezes mais doses per capita do que nações da África Subsaariana. Num embate Canadá versus Sudão a diferença foi de 34 vezes.

Hoje, no Brasil, 75% da população tem ao menos uma dose, 55% já completou o ciclo e 4% recebeu reforço. Resultado a se comemorar, mas que jamais esconderá os quase
22 milhões de contaminados e as 608 mil mortes. Conta que poderia ser totalmente diferente e foi inflada pela ignorância e pelo negacionismo de JB e sua turma de militares no comando da saúde. Esse é o papel reservado à história para Jair Bolsonaro.

ELEIÇÕES 2022
Inferno astral

Suamy Beydoun

JB e seu vice, Hamilton Mourão, escaparam da cassação da chapa que hoje ocupa a Presidência. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu por 7 votos a 0 a favor de Bolsonaro. O ministro Luis Felipe Salomão, relator da ação, afirmou que houve uso de disparos em massa pelo WhatsApp para atacar adversários, mas não havia provas de que isso tivesse mudado o resultado eleitoral. Os demais acompanharam o relator. Apesar de votar com Salomão, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que presidirá o TSE em 2022, afirmou que estratégias digitais como as de Bolsonaro não serão toleradas no ano que vem. “Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado e as pessoas que assim fizerem irão para a cadeia”, disse. Moraes está perto de entrar em seu inferno astral. Ele nasceu dia 13 de dezembro de 1968. Para quem gosta de coincidências, exatamente o mesmo dia em que foi baixado o Ato Institucional número 5.

Divulgação

“As diferenças de renda entre o mundo pobre e o mundo rico são tão grandes que as pessoas precisam se interessar” Esther Duflo (1972) Prêmio Nobel de Economia 2019.

MINISTÉRIO DO TRABALHO
Negacionismo funcional

Mateus Bonomi

Onyx Lorenzoni, que por ora ocupa o cargo de ministro do Trabalho, assinou portaria que proíbe a demissão de funcionários que se recusam a tomar a vacina contra a Covid-19. A norma foi publicada na segunda-feira (1o) no Diário Oficial da União. “Considera-se prática discriminatória a obrigatoriedade de certificado de vacinação em processos seletivos de admissão de trabalhadores, assim como a demissão por justa causa.” Já na quarta-feira (3), o senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou no Senado projeto para derrubar a decisão de Onyx, mas ainda não há data para sua apreciação pelo plenário. O Ministério Público do Trabalho (MPT) é favorável à demissão por justa causa de trabalhadores que se recusem a tomar vacina. Para o MPT, a recusa individual e injustificada não pode colocar em risco a saúde dos demais empregados.

CHINA
Medo de desabastecimento

LO PING FAI

Na segunda-feira (1o), o Ministério do Comércio da China pediu às famílias do país que mantenham em estoque itens para suas necessidades diárias, o que inclui armazenar alimentos. Novos surtos de Covid e chuvas excepcionalmente fortes elevaram as preocupações sobre a escassez de suprimentos. A imprensa local publicou listas de produtos recomendados para armazenar em casa, como macarrão instantâneo, vitaminas, rádios e lanternas. O medo público forçou a mídia estatal a tentar acalmar os temores na terça-feira (2). Segundo a Agência Reuters, o Economic Daily, jornal apoiado pelo Partido Comunista, disse aos internautas que o objetivo da diretiva era garantir que os cidadãos não fossem pegos desprevenidos. A China mantém a política de Covid Zero, para eliminar do território todos os casos da doença, o que leva o país a implementar restrições extremas, levando a desequilíbrios econômicos e aumento de preços.

PAGANDO PELA CRISE
A criança e o risco ambiental

No próximo dia 20, sábado, a Unicef comemora o Dia Mundial da Criança. Levantamento feito pela organização, por meio do Índice de Risco Climático das Crianças (CCRI), mostra quantos jovens no mundo estão expostos a riscos, choques e estresses climáticos e ambientais. Para a Unicef, criança é todo ser humano com menos de 18 anos. Há 2,4 bilhões de pessoas nesta faixa.