14/04/2017 - 9:40
Após uma longa espera, civis e combatentes começaram nesta sexta-feira a deixar quatro cidades sob cerco na Síria, enquanto aliados do presidente Bashar al-Assad se reuniam em Moscou em meio a tensões EUA-Rússia.
Milhares de pessoas lotaram os ônibus que partiram ao mesmo tempo de duas cidades sitiadas pelos rebeldes, Fua e Kafraya, e de duas outras cercadas pelo regime, Madaya e Zabadani.
Esta operação complexa foi possível graças a um acordo entre todas as partes que foi patrocinado pelo Catar, que apoia os rebeldes, e o Irã, aliado do regime.
Em Rachidin, cidade a leste de Aleppo e controlada pela oposição, um correspondente da AFP viu a chegada de cerca de 5.000 habitantes de Fua e Kafraya a bordo de 80 ônibus e 20 ambulâncias.
Um grande número de mulheres, crianças e idosos estavam nestes veículos escoltados por combatentes, incluindo da ex-facção da Al-Qaeda na Síria, rebatizada de Fateh al-Sham.
“Não posso descrever o que sinto, mas espero ver um dia a harmonia voltar a reinar entre nós como era antes” da guerra, declarou um morador à AFP.
Como parte do acordo, os 16.000 habitantes de Fua e Kafraya devem se dirigir, passando por Rachidin, a Aleppo, Damasco ou Latakia (oeste), redutos do regime.
Segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), 5.000 pessoas abandonaram Fua e Kafraya, incluindo 1.300 combatentes pró-governo.
Pela noite, os ônibus seguiam em direção a Aleppo, de acordo a OSDH.
“Não posso descrever o que sinto, mas espero que um dia a harmonia volye entre nós como antes” da guerra, declarou um habitante à AFP durante a parada em Al Rashidin.
‘Angústia’ e ‘raiva’
Paralelamente, cerca de 65 ônibus deixaram Madaya e Zabadani, dois enclaves rebeldes sitiados pelas forças do governo na província de Damasco. Eles deviam se dirigir para a província rebelde de Idlib.
O OSDH informou que 2.200 pessoas foram evacuadas das duas cidades, entre elas 400 rebeldes.
Os ônibus que saíram de Madaya chegaram mais tarde a Al Rashidin, onde deveriam continuar até Idlib, segundo o OSDH.
“As pessoas estão confusas. O sentimento que prevalece é a angústia, a tristeza e a raiva”, afirma Mohamed Darwich, um médico de Madaya. “Nós não sabemos o que acontecerá com aqueles que permaneceram, e não sabemos o nosso destino. Esperamos voltar em breve. Ainda é nossa terra”.
“É realmente difícil ver que nos cercaram e que nos fazem morrer de fome e que nos bombardeiam”, testemunhou Amjad al-Maleh, outro residente de Madaya.
Mais de 30.000 pessoas devem ser evacuadas como parte do acordo concluído em março e que começou na quarta-feira com uma troca de prisioneiros.
Os combatentes obrigados a partir foram autorizados a manter suas armas leves.
Segundo OSDH, milhares de civis decidiram permanecer em Madaya, onde o exército entrou durante o dia.
Zabadani foi a primeira cidad síria conquistada pelos rebeldes em janeiro de 2012.
Reunião em Moscou
Em uma entrevista concedida na quarta-feira à AFP em Damasco, o presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que “os deslocamentos feitos neste contexto são obrigatórios”. “Nós não temos escolha, e gostaríamos que todos pudessem permanecer em sua aldeia e sua cidade (…) Todos vão voltar para casa após a libertação”, assegurou.
Por sua parte, a oposição chamou “as transferências forçadas de crimes contra a humanidade”.
A ONU estima em pelo menos 600.000 o número de pessoas que vivem em áreas sitiadas, e em 4 milhões os que vivem em regiões de difícil acesso.
Na frente diplomática, em Moscou, onde os líderes da diplomacia iraniana e russa, cujos países são aliados de Damasco, e o ministro das Relações Exteriores da Síria, se reuniram para fazer um balanço da situação no terreno.
A reunião é realizada uma semana após o bombardeio dos Estados Unidos a uma base aérea síria em retaliação ao suposto ataque químico que fez 87 mortos em 4 de abril na cidade rebelde de Khan Sheikhun, no noroeste do país.
O governo americano acusa o regime de Bashar al-Assad e chamou o ataque de “crime de guerra”.
Na entrevista à AFP, Assad assegurou por sua vez que o ataque químico foi “100% forjado” pelo “Ocidente, principalmente os Estados Unidos,” para servir de desculpa para o ataque de 7 de abril contra a base aérea.
Declarações essas chamadas nesta sexta-feira de “100% mentiras” pelo chanceler francês Jean-Marc Ayrault.