Ilegítimo, autoritário e deprimente, o processo eleitoral que reconduziu Nicolás Maduro para mais uma longa temporada à frente do poder na Venezuela torna ainda mais aguda – se é possível! – a crise naquele país. O assustador nesse processo é verificar a quase apatia das demais nações, parceiras ou não, que nada mais fazem do que protestar contra o regime, sem discutir qualquer alternativa de intervenção legal, através dos organismos competentes, naquela que é hoje talvez a mais terrível e criminosa ditadura dos dias atuais.

O senhor Maduro controla o judiciário, controla o legislativo, as forças armadas e cala, na marra, à base de cassetetes, os opositores. Hordas de conterrâneos fogem dali em condições miseráveis, migram em busca de alguma forma de sobrevivência minimamente digna. Maduro se reelegeu fraudando grotescamente o resultado das urnas, para mais seis anos de governo e ninguém parece capaz de detê-lo. Os EUA impuseram sanções econômicas severas. Anunciaram o bloqueio de ativos venezuelanos no país, incluindo as propriedades da petrolífera estatal PDVSA. É um primeiro passo.

Os cofres de Maduro dependem fundamentalmente da exportação de petróleo e muito do que a estatal produz vai direto e é comercializada no mercado americano. Com aperto no caixa o estafeta do antecessor, Hugo Chávez, pode sucumbir. Quem sabe! Nos últimos anos, mais de 1,5 milhão de venezuelanos preferiram o êxodo para nações vizinhas ao martírio da escassez inclemente dos produtos básicos. Falta de tudo ali. Comida, água, transporte, remédio, infraestrutura essencial para a sobrevivência humana. O canal diplomático com Maduro está definitivamente barrado.

Ao menos 15 países repudiaram a sua vitória, não reconheceram o pleito e, assim, ele caminha para o isolamento. A guerra política contra Maduro ainda demora. Está no seu início. O problema é saber se o povo sobrevive a tanta provação. Simulacro de modelo de esquerda, o regime implantado ali ainda recebe, por incrível que possa parecer, apoio de figuras desconectadas de bom-senso, como os ex-presidentes brasileiros Lula e Dilma. Injustas e ilegítimas são as práticas adotadas na Venezuela.

Qualquer organização de direitos humanos do planeta é capaz de atestar isso. Em frangalhos, castigada pela corrupção, por uma hiperinflação que chega a 14.000% ao ano, com uma mortalidade infantil que cresceu a um ritmo imoral de 30% somente em 2017, a terra de Maduro e Chávez, na base do cabresto, entrou em falência, sob todos os aspectos. Há que ser resgatada por autoridades multilaterais, antes que seja tarde. É uma prioridade social, econômica e política, em respeito à humanidade.

(Nota publicada na Edição 1071 da Revista Dinheiro)