A decisão da China de punir com tarifas a cevada da Austrália levou os agricultores à incerteza e significará uma perda de centenas de milhões de dólares australianos.

Os agricultores australianos estão na linha de frente da tensão diplomática entre a China e a Austrália.

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Em 18 de maio, a China decidiu aplicar tarifas de 80,5% à cevada australiana, privando assim os produtores de cereais do país desse mercado, o mais importante para eles.

A notícia “chocou” o produtor australiano Tim O’Meehan.

“Eu já havia plantado metade do meu campo de cevada, quando essa nova tarifa foi anunciada. Então parei tudo e plantei trigo nas terras restantes”, disse O’Meehan, da terceira geração de agricultores da família, que estima que entre “70% e 80%” de sua produção vão para a China.

Ele está otimista, porém, com a possibilidade de vender a mercadoria para outros países. E admite que “haverá necessariamente uma queda na receita: o preço de uma tonelada de cevada era de 270 dólares australianos (162 euros), caiu para 219 (131 euros) após o anúncio pelos chineses, e agora está em torno de 240 (144 euros). Vai ser difícil”.

A China justifica o novo imposto, dizendo que houve dumping (venda a um preço abaixo do custo de mercado) na cevada importada da Austrália.

Uma investigação foi conduzida por quase 18 meses, e a expectativa era de uma sanção. Mas, lamenta Brad Jones, à frente de uma fazenda de cereais de 11.000 hectares, “não se esperava que o valor da tarifa fosse tão alto”.

A Austrália ameaçou recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ambos os países sustentam que o que está por trás deste caso é uma disputa comercial, mas chama a atenção que o anúncio de Pequim tenha ocorrido apenas alguns dias após a Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 17 de maio.

– Carne bovina –

 

Durante a Assembleia, mais de 130 Estados assinaram uma moção promovida pela Austrália e pelos Estados Unidos, pedindo uma investigação sobre as origens da pandemia de coronavírus.

A China se opôs categoricamente a essa investigação.

Além disso, em 26 de abril, o embaixador da China em Camberra, Cheng Jingye, sugeriu claramente que uma retaliação econômica poderia ser tomada, se a Austrália insistisse em pedir uma investigação.

Além da cevada, a China também anunciou alguns dias antes sua decisão de suspender a importação de carne bovina de quatro dos principais matadouros da Austrália. Sozinhos, eles representam um terço da produção do país.

A China é o principal cliente da carne bovina da Austrália, mas as notícias não desestabilizaram a AaCo, maior produtor australiano.

Em um comunicado divulgado esta semana, a empresa lembra que “a China representa 15% de todas as nossas vendas de carne. No momento, mais de um terço de nossas exportações para a China não foi afetado pela suspensão. Nossa presença global nos permite redirecionar nossos produtos para outros mercados”.

Outros produtos australianos também podem ser atingidos. De acordo com informações divulgadas esta semana pela Bloomberg, as autoridades chinesas estão considerando aplicar restrições, tarifas, ou novas regras, a produtos lácteos, vinhos e frutos do mar.

Nestes três casos, o principal cliente internacional é a China.

“Sempre protegeremos os interesses nacionais da Austrália”, afirmou a ministra das Relações Exteriores, Marise Payne.

A China é o maior parceiro comercial da Austrália e representa mais de 25% do comércio, por um valor equivalente a 136 bilhões de euros (148 bilhões de dólares) em 2018/2019.

Esse valor é igual ao montante combinado do comércio da Austrália com Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e Singapura, seus outros quatro principais parceiros econômicos.