A China anunciou nesta sexta-feira (19) o lançamento de uma campanha de inspeção de alimentos importados, após o ressurgimento do novo coronavírus em Pequim, e depois que especialistas notaram semelhanças com as cepas europeias do vírus.

A capital chinesa de 21 milhões de pessoas havia quase recuperado a normalidade após dois meses sem novas infecções. E a epidemia era considerada quase erradicada no país, graças ao uso da máscara, ao monitoramento de contatos e às quarentenas.

China, com 25 novos casos de COVID-19 em Pequim, revela o genoma do vírus

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Há alguns dias, porém, um surto de COVID-19 foi registrado na capital e a prefeitura confinou cerca de 30 áreas residenciais, fechou escolas e realizou testes de diagnóstico em centenas de milhares de habitantes.

O Ministério da Saúde informou nesta sexta-feira 25 novos casos de COVID-19 em Pequim em 24 horas, elevando o total para 183.

As autoridades divulgaram novas informações sobre o surto e forneceram informações sobre o genoma do vírus à Organização Mundial da Saúde (OMS) e a cientistas estrangeiros.

“De acordo com resultados preliminares da epidemiologia genômica, esse vírus viria da Europa”, disse Zhang Yong, autoridade do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China.

“Mas é diferente da (cepa) do vírus que circula atualmente na Europa. É mais antiga”, afirmou ele em artigo publicado pela Comissão Nacional Anticorrupção.

Segundo ele, poderia ser uma versão do vírus que circulava no continente europeu há várias semanas, ou meses.

– Carne e verduras –

Suspeita-se de que a origem das novas infecções esteja no mercado atacadista de Xinfadi, que fornece produtos frescos para a capital. O vírus foi detectado em tábuas de corte para salmão importado.

Segundo Zhang Yong, este SARS-Cov2 poderia ter vindo da Europa, através de alimentos congelados. Também poderia estar há tempos no mercado, onde teria sobrevivido, graças à umidade e à escuridão – daí sua semelhança com as cepas mais antigas.

Como medida de precaução, Pequim aconselhou seus moradores a jogarem fora todos os frutos do mar congelados e à base de soja comprados em Xinfadi.

Entre as amostras que deram positivo no mercado, “muitas” eram desse tipo de alimento, disse um porta-voz da prefeitura.

Song Yueqian, responsável pela Administração Geral das Alfândegas, anunciou uma campanha para inspecionar os alimentos frescos conservados em baixas temperaturas e provenientes de “países de alto risco”.

Essa lista inclui frutos do mar congelados, carne e legumes: dos 15.638 testados até agora, todos deram negativo para o novo coronavírus, disse Song a repórteres.

Como medida de precaução, a China suspendeu as importações do produtor alemão de carne Tönnies, depois que um trabalhador deu positivo.

– Não tocar no pescado nem na carne crua –

“Nada mostra que o vírus seja transmitido por outras vias”, além de gotículas de saliva, ou contato com pessoas infectadas, disse Feng Luzhao, especialista do Centro de Controle e Prevenção de Doenças.

Ainda assim, esse especialista aconselhou os habitantes a não tocarem diretamente no pescado, ou em carne crua.

Outros cientistas alertam, no entanto, que conclusões precipitadas sobre a origem do vírus detectado atualmente em Pequim devem ser evitadas.

“É possível que o vírus que está causando uma epidemia em Pequim tenha viajado de Wuhan para a Europa e agora retornado à China”, disse Ben Cowling, professor do Centro de Saúde Pública da Universidade de Hong Kong.

Para esse especialista, o fato de não ter identificado o primeiro caso novo torna muito difícil rastrear a origem do vírus.