A economia chinesa cresceu no segundo trimestre em seu ritmo mais lento em quase três décadas, em meio a uma guerra comercial com os Estados Unidos e em um contexto de enfraquecimento da demanda global, segundo especialistas entrevistados pela AFP.

O dado oficial será anunciado na segunda-feira, acompanhado de uma série de estatísticas mensais.

De acordo com a previsão média de dez analistas, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China será de 6,2% no acumulado de 12 meses no período de abril a junho, em comparação com 6,4% no primeiro trimestre de 2019.

A cifra está dentro da faixa de crescimento estimada por Pequim para este ano: de 6% a 6,5%, contra 6,6% em 2018.

O índice de crescimento no primeiro trimestre “surpreendeu positivamente” ao se manter igual ao do último trimestre de 2018, apesar do agravamento das tensões comerciais com os Estados Unidos, avalia Björn Giesbergen, economista de RaboResearch.

O presidente americano, Donald Trump, denuncia o excedente comercial da China em relação a seu país, e no ano passado impôs tarifas a diversos produtos chineses como sanção.

Washington decidiu, em maio, elevar de 10% a 25% as tarifas sobre produtos chineses importados por um valor de 200 bilhões de dólares anuais, após o fracasso das negociações com Pequim.

Atualmente, as tarifas têm “impacto sobre a economia chinesa”, estima o economista Steven Cochrane, da agência Moody’s.

A atividade industrial da China voltou a diminuir em junho, chegando a seu nível mais baixo em quatro meses. O índice dos preços de produção (reflexo da demanda interna) foi nulo em junho – algo inédito desde agosto de 2016.

– ‘Sob pressão’ –

As exportações, um dos pilares da economia do gigante asiático, estão “baixas”, particularmente as que vão para os Estados Unidos, que “caíram muito” devido à guerra comercial com Washington, diz Cochrane.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, pediu mais apoio a empresas de projeção internacional e prometeu cortes de impostos.

As exportações chinesas “continuarão sob pressão”, apesar da trégua na guerra comercial decretada no final de junho pelo presidente dos Estados Unidos e seu colega chinês Xi Jinping durante a cúpula do G20, observa Tommy Wu, economista da Oxford Economics.

Ele acredita que “provavelmente as tarifas existentes entre os dois países não serão suspensas em breve, e a situação global é morna”.

Na sexta-feira, a China divulgou dados comércio não estimulantes: uma queda de 1,3% no comparativo anual das exportações em junho e de 7,3% nas importações.

Negociadores chineses e americanos retomaram o diálogo nesta semana.

É uma “fase de equilíbrio que alterna estabilidade e instabilidade” com terríveis consequências para a economia como um todo, estima Steven Cochrane.

No início de junho, o Banco Mundial revisou para baixo as projeções de crescimento global para este ano, para +2,6% (contra +2,9% estimados em janeiro).

– Em apuros –

Para apoiar a economia, a China se comprometeu em março a reduzir em quase 2 trilhões de yuans (298 bilhões de dólares) a pressão fiscal e social sobre as empresas.

Os bancos também foram encorajados a aumentar os empréstimos para pequenas empresas, até então deixadas de lado em benefício de grandes grupos públicos.

Essas medidas ocorrem em um momento em que as autoridades tentam lutar contra o superendividamento descontrolado que ameaça seu sistema financeiro.

A política oficial do Banco Central é emprestar menos, o que deixa alguns estabelecimentos em apuros. Por exemplo, o Baoshang Bank está sob tutela por um ano a partir de maio devido aos significativos “riscos de crédito” que representou, uma ocorrência incomum no sistema bancário chinês.

A economia chinesa está passando por uma “tendência de queda, os indicadores estão ruins e eles ainda vão piorar”, prevê Larry Hu, analista do banco Macquarie. “Mas a situação não é ruim o suficiente para justificar mais medidas de reativação.”