A China, o maior emissor mundial de gases de efeito estufa na atualidade, entregou oficialmente, nesta quinta-feira (28), seus novos compromissos climáticos, conforme anunciou a ONU, a três dias do início da COP26, conferência crucial contra o aquecimento global.

Em sua nova “Contribuição Determinada em Nível Nacional (NDC, na sigla em inglês)”, Pequim se compromete a alcançar seu pico de emissões “antes de 2030”, e a neutralidade de carbono, “antes de 2060”.

Estas metas se mantêm dentro do que já havia sido antecipado pelo presidente Xi Jinping.

Apresentadas no site da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), estas novas contribuições preveem reduzir a intensidade de carbono (emissões de CO2 em relação ao PIB) em mais de 65% em relação a 2005.

Em sua NDC anterior, a China se comprometia a reduzir sua intensidade de carbono entre 60% e 65%, até 2030, e a conseguir seu pico de carbono “por volta de 2030”.

Em sua nova contribuição, Pequim lembra que os países desenvolvidos devem “assumir suas responsabilidades históricas e continuar liderando, com clareza, a redução de emissões”.

A China também se compromete a aumentar a participação de combustíveis não fósseis a 25% de seu consumo, contra 20% em sua NDC anterior, em particular com o aumento de “sua capacidade instalada de energia solar e eólica para 1,2 bilhão de kW até 2030”, assim como com o aumento de seu “estoque” florestal em 6 bilhões de metros cúbicos em relação a 2005.

Segundo o Acordo de Paris, assinado em 2015 com a ambição de manter o aquecimento global abaixo de +2°C e, se possível, de +1,5°C, em comparação com a era pré-industrial, os países signatários devem apresentar uma NDC revisada a cada cinco anos.

– Semeando dúvidas –

A nova contribuição da China, responsável por mais de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, era, portanto, aguardada com ansiedade antes da COP26. A cúpula será inaugurada oficialmente no domingo (31), em Glasgow (Escócia).

O compromisso chinês era especialmente aguardado, depois do anúncio da ONU, na segunda-feira, de que os novos compromissos climáticos assumidos nas últimas semanas ainda conduzem o mundo a um aquecimento “catastrófico” de +2,7°C.

Aos olhos de muitos observadores e ONGs, porém, a nova contribuição de Pequim não parece ambiciosa o suficiente.

Para Li Shuo, do Greenpeace China, o anúncio do governo chinês “lança dúvidas sobre o esforço climático global”. “Em vista das incertezas econômicas internas, o país parece relutante em abraçar metas de curto prazo mais fortes e perdeu a oportunidade de demonstrar liderança”, afirmou.

“O mundo não pode permitir que essa seja a última palavra, e Pequim deve desenvolver planos de implementação para garantir o pico de emissões antes de 2025”, escreveu ele no Twitter.

Para Lauri Myllyvirta, analista do Centro de Pesquisas de Energia e Ar Limpo (CREA), a nova NDC chinesa grava os compromissos do presidente Xi em pedra, mas “não esclarece qual será a trajetória da próxima década em termos de emissões”.

Já Helen Mountford, vice-presidente do World Resources Institute, garantiu que a iniciativa chinesa representa “uma melhora modesta”.

“Se o mundo deve ter uma oportunidade de enfrentar a crise climática, a China e os outros grandes países emissores devem passar de uma política de pequenos passos para outra de saltos gigantes”, acrescentou

Por sua vez, a presidente da UNFCCC, Patricia Espinosa, preferiu não comentar a nova contribuição da China, pois disse que ainda não teve tempo para analisá-la, em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira.

Contudo, Espinosa afirmou que “estava claro que, há algum tempo”, o gigante asiático “refletia em sua NDC os anúncios” do presidente Xi Jinping.

A Austrália, o maior exportador mundial de carvão, cujo primeiro-ministro conservador Scott Morrison regularmente manifesta seu apoio à indústria de mineração e gás, também apresentou uma nova NDC nesta quinta.

Conforme anunciou o premiê no início desta semana, a principal adição é o compromisso de chegar à neutralidade de carbono até 2050, mas a contribuição não dá detalhes específicos sobre como o país pretende alcançá-la.