A China expressou nesta sexta-feira apoio total ao combate judicial iniciado ontem pela gigante mundial das telecomunicações Huawei contra os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que prometeu adotar “todas as medidas necessárias” para defender a empresa.

O ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Yi, celebrou nesta sexta-feira a iniciativa da empresa e afirmou que a Huawei não deve permanecer calada como um “cordeiro silencioso” diante dos americanos.

Os Estados Unidos proibiram a Huawei de participar da instalação em seu território do 5G, a quinta geração de internet móvel, alegando que a China poderá utilizar os equipamentos do grupo para espionagem. Além disso, Washington tenta convencer os aliados ocidentais a adotar a mesma postura.

A justiça americana também quer julgar a diretora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, por violar as sanções ao Irã. Meng foi detida no Canadá, onde permanece sob liberdade vigiada, à espera do julgamento de um pedido de extradição.

“Basta ter uma postura objetiva e imparcial para ver que as recentes ações contra uma empresa e particulares chineses não são um simples caso judicial, mas sim uma repressão política deliberada”, disse Wang Yi à imprensa.

“Neste sentido, adotamos e seguiremos adotando todas as medidas necessárias para proteger com decisão os direitos e interesses legítimos das empresas e dos cidadãos chineses”.

“Corresponde ao governo chinês assumir esta responsabilidade”, disse Wang Yi durante a entrevista coletiva.

– “Armas legais” –

Na quinta-feira, a Huawei, gigante mundial dos smartphones e que disputa mercado com a Samsung e a Apple, informou que apresentou uma ação no Texas contra o governo dos Estados Unidos, que proibiu as agências federais de comprar equipamentos e serviços do grupo.

A empresa chinesa também pedirá uma indenização por danos e prejuízos aos Estados Unidos por restrições que considera “inconstitucionais”. Acusa ainda Washington de ter hackeado seus servidores e roubado e-mails.

“Apoiamos as empresas e pessoas afetadas no uso de armas legais para proteger seus direitos e interesses”, disse Wang Yi.

A Huawei é líder mundial em equipamentos de telecomunicações, mas seu controle do mercado gera uma preocupação crescente nos Estados Unidos, que quer se manter à frente do setor tecnológico.

O governo americano também diz estar preocupado com o fato de Pequim usar “backdoors”, as portas de entrada em equipamentos que potencialmente permitem espionar as comunicações.

As preocupações de Washington aumentaram com a expansão do grupo chinês no exterior. Os equipamentos da Huawei são considerados mais avançados que os das concorrentes sueca Ericsson ou finlandesa Nokia e nenhuma empresa americana representa uma concorrência considerável para o grupo chinês.

O governo americano considera a Huawei uma ameaça pelo passado de seu fundador, Ren Zhengfei, 74 anos, um ex-engenheiro do Exército chinês, e por uma lei que exige que grupos com sede social na China forneçam assistência técnica aos serviços de inteligência.

Mas a China alega que a situação é um pretexto para frear o desenvolvimento da empresa, líder mundial de equipamentos de telecomunicações, e evitar que os Estados Unidos sejam superados tecnologicamente.

“O que queremos é defender não apenas os direitos e interesses de uma empresa, mas também o legítimo direito de desenvolvimento de um país, de uma nação, e de todos os países do mundo que desejam melhorar seu nível de desenvolvimento científico e tecnológico”, afirmou Wang.

A Huawei lançou nas últimas semanas uma campanha de comunicação agressiva para defender sua imagem. O outrora discreto fundador da companhia, Ren Zhengfei, tem dado várias palestras e entrevistas nas últimas semanas. Na quarta-feira, a empresa organizou uma visita a suas instalações de produção, pesquisa e desenvolvimento no sul da China.

O diretor jurídico da Huawei, Song Liuping, admitiu que a lei chinesa poderia obrigar a empresa a ajudar o governo, mas apenas em casos de terrorismo ou atos criminosos.

Após o processo contra Washington, a empresa chinesa informou nesta sexta-feira que não pretende no momento questionar na justiça a decisão da Austrália de bloquear o acesso da Huawei ao desenvolvimento do 5G neste país.