Estamos vivendo novo momento no cenário macroeconômico, com imposição de ajustes inevitáveis e reinvenção sem precedentes no mundo empresarial. Cada empresa, sem exceção, qualquer que seja o porte ou tipo de negócio, precisa fazer uma reflexão estratégica sobre seu futuro, com muitos questionamentos a serem devidamente aprofundados.

Qual rumo seguir? Qual negócio devemos focar? De quais seria melhor sair? Quais oportunidades estão inexploradas no mercado? Quais competências precisamos adquirir? Como atingir melhores resultados? Temos grau satisfatório de eficiência operacional? Nosso modelo de gestão, estrutura e os perfis de pessoas que temos são adequados para a estratégia que desejamos implementar? Enfim, quais as prioridades para os próximos anos? Em qual patamar desejamos estar em 2021? E em 2025?

Sempre gosto de dizer que essa reflexão estratégica é uma espécie de “antessala” do planejamento estratégico. Quase um “pit stop” prévio. Porém, há um problema crescente. Em muitas empresas, o planejamento estratégico acabou virando mero exercício de ajustes do orçamento para o ano seguinte. O orçamento deve ser a última etapa e não o ponto de partida do planejamento estratégico. Estratégia não pode ser vista como projeção estatística do passado.

Nossas empresas têm sofrido muito nos últimos anos, imersas em uma situação na qual vários indicadores relevantes revelam dados aflitivos, gerando um verdadeiro tobogã de expectativas, com muita incerteza sobre o futuro. Esse conjunto inclui desemprego altíssimo, baixa confiança dos investidores e receio dos consumidores, além da absurda estrutura de custos logísticos, tributários e financeiros. Também faz parte desse cenário as disrupçoes tecnológicas que têm destruído negócios tradicionais da noite para o dia.

Entretanto, já percebemos também sinais indicando um mar de novas oportunidades. Sua empresa está se preparando para isso ou vai ficar refém dos acontecimentos para só se reposicionar quando já for tarde demais?

A reconfiguração do mundo mostra a transição da economia industrial para a de serviços, do fixo para o móvel e do tangível para o intangível. Em meio a essas transformações impactantes, temos clientes mais exigentes que nunca e as bases antes previsíveis estão se volatilizando. A filosofia do ter, por meio da propriedade e posse, cede lugar para o compartilhamento, com acesso ao uso de imóveis, equipamentos e veículos, entre outros itens.

Sua empresa aguardará passivamente os acontecimentos ou já começa a pensar em soluções disruptivas? E não me refiro apenas a produtos ou tecnologias, mas a modelo de negócios e gestão de clientes, pessoas, parceiros e ativos. Chegou a hora de repensar a empresa buscando a construção de soluções autossustentáveis, como o caminho estratégico viável que a levará a superar as adversidades do presente e a garantir um lugar no futuro.

A reflexão estratégica é fundamental para alinhar e comprometer as pessoas relevantes com uma visão de futuro compartilhada. Desta forma, tornadas claras e explícitas as convergências e os pontos ainda a convergir, com alto grau de alinhamento e compreensão do futuro do negócio, é possível estabelecer o propósito comum e desdobrar o planejamento estratégico entre os diferentes departamentos e unidades de negócios.

Esse alinhamento é essencial porque precisa colocar na mesma página os mais diversos níveis hierárquicos da organização, tais como o Conselho de Administração e a Diretoria, partes societárias ou membros de uma família (nas empresas familiares) e os líderes dos vários departamentos. À primeira vista, fazer os atores dessa dinâmica convergir pode parecer simples, mas, o alinhamento tem sido, infelizmente, mais exceção do que a regra.

Em alguns casos, os membros da Diretoria possuem visões nem sempre harmônicas. Embora possuam a melhor das intenções, na maioria das vezes, isso faz com que acabem remando o barco em direções diferentes, gerando desperdícios e conflitos que poderiam ser evitados, promovendo sintonia dos executivos com o objetivo central.

Percalços também surgem quando fundos de investimento ou sócios minoritários estão em conflito ou desalinhados com o rumo da empresa. E quem não conhece alguma história de empresa familiar que ficou à deriva enquanto havia brigas de irmãos ou entre ramos da família?

A reflexão estratégica é um instrumento também de prevenção de “trincas” nas esferas decisoras, pois, quando bem feita, age como instrumento de diálogo construtivo, maximizando o aproveitamento do potencial da organização e trazendo sinergias aos pontos de vista diferentes.

Se você quer garantir o futuro da sua empresa, sugiro forte engajamento em um exercício de reflexão estratégica que possibilite a tomada de decisões corretas. Somente assim é possível evitar que os líderes sejam atropelados por situações inesperadas ou indesejadas. Além disso, é o único caminho para promover real alinhamento da visão de futuro com as pessoas relevantes, abrangendo membros da equipe, investidores, sócios e outras instâncias de governança da empresa. Esse movimento também é crucial para aumentar a taxa de sucesso na execução da estratégia, uma necessidade que bate à porta logo em seguida ao planejamento.

Lembre que a reflexão é o primeiro passo e estará encadeada em toda a sequência de etapas. Portanto, não improvise. Adote uma metodologia adequada e inspiradora e a siga com disciplina para formatar esse futuro de forma compartilhada e eficaz. Construa e carimbe o seu “passaporte para o futuro”.

Afinal, é preciso se transformar para ser o agente da transformação que sua empresa necessita!

*  César Souza é cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor e palestrante em Estratégia, Liderança, Clientividade e Inovação. Autor de “Seja o Líder que o Momento Exige” é também coautor do recém-lançado “Descubra o Craque que Há em Você” (Buzz, 2020)