O altamente especulativo mercado de ações de biotecnologia está em polvorosa. Começou a temporada de aprovações de patentes de medicamentos no FDA, o órgão do governo americano que controla o lançamento de produtos farmacêuticos. A estação sacudirá o mercado em janeiro, definindo vitoriosos e derrotados. Uma decisão do FDA pode ser, para uma empresa do ramo, a diferença entre o sucesso e a bancarrota. Em Wall Street, uma patente aprovada pode multiplicar por mil o valor de uma ação, enquanto uma rejeição pode simplesmente transformar o investimento em pó. Uma das primeiras decisões da safra deste ano ? que tem 44 patentes na fila ? confirmou o poder do FDA: a Scotia Holdings, a um passo do colapso em novembro, foi levada às alturas após o órgão americano reconsiderar uma decisão que proibia a venda nos Estados Unidos do Foscan, um medicamento contra câncer. As ações da companhia subiram 30% no mesmo dia. E a decisão nem é definitiva. Esta, se sair, só em março.

A agitação no mercado é para tentar antecipar qual será a próxima beneficiada por decisões do FDA. No modelo de negócio das companhias de biotecnologia, o usual é ter toda a receita concentrada em no máximo dois produtos. Enquanto eles não chegam ao mercado, existe apenas uma promessa. Mas, ao contrário das pontocom, que despencaram de preço este ano, as companhias ficam altamente lucrativas logo que são autorizadas a vender seus produtos. ?Biotecnologia e pontocom não são a mesma coisa. As pessoas de fato precisam de novos medicamentos, o que é muito diferente de mais um site de vendas na Internet?, argumenta J. Craig Venter, presidente da mais emblemática das biotechs, a Celera Genomics, autora do projeto de mapeamento do genoma humano.

A percepção dos investidores foi a mesma. As companhias do setor conseguiram levantar nada menos que US$ 35 bilhões em financiamentos este ano, ao mesmo tempo em que as portas do mercado se fechavam para as pontocom. A fartura de capital para a biotecnologia bateu em mais de três vezes o melhor ano do setor, segundo dados da Ernst & Young. Tanto dinheiro mudou a perspectiva de futuro de muitas companhias. A Gene Logic, que vende seu banco de dados genéticos para clientes, conseguiu US$ 247 milhões em janeiro e saiu do sufoco. Gastou apenas US$ 16 milhões ao longo do ano e mantém fôlego para investir por mais de dez anos. A dependência de um só produto, entretanto, pode condenar uma empresa rapidamente ao desprezo. Ações de empresas bem-sucedidas podem entrar em declínio ao menor sinal de queda nas vendas de seus produtos, ainda que continuem tendo lucro. Como as americanas Amgen e Biogen. As duas lucraram mais do que os analistas esperavam no terceiro trimestre, mas os investidores fugiram ao descobrir que seus produtos líderes, o Epogen e o Avonex, tiveram queda nas vendas.