O primeiro-ministro da Líbia, Abdelhamid Dbeibah, que deve liderar a transição até as eleições previstas para dezembro, prestou juramento ao cargo nesta segunda-feira (15), um mês após sua designação em meio a um processo político mediado pela ONU.

Dbeibah e seus ministros juraram “preservar a unidade, a segurança e a integridade” da Líbia, país que vive no caos há uma década, durante uma cerimônia na sede provisória do Parlamento instalada em 2014 em Tobruk, 1.300 km a leste de Trípoli.

Este ato, que representa um importante avanço político desde 2014, seria em Benghazi, berço da revolta que levou à queda do governo de Muammar Khadafi em 2011, mas foi transferido para Tobruk por razões “logísticas”.

Após anos de estagnação em um país dividido em dois lados – um ao leste, outro no oeste -, Dbeibah, um bilionário de 61 anos, foi nomeado primeiro-ministro interino em 5 de fevereiro por 75 autoridades líbias reunidas em Genebra, sob a mediação da ONU, ao mesmo tempo que um Conselho Presidencial de três membros.

“Temos que ser o centro da reconciliação até as eleições do final de ano”, declarou hoje o presidente deste conselho, Mohamed al-Manfi.

O embaixador da União Europeia na Líbia, Jose Sabadell, elogiou “as mensagens fortes sobre a reconciliação e a unidade”, durante a cerimônia.

Este governo de unidade nacional obteve na quarta-feira passada um voto de confiança “histórico” dos deputados.

Desse modo, o novo Executivo substitui o Governo de União Nacional (GNA) de Fayez Al Sarraj, instalado em 2016 no oeste do país e reconhecido pela ONU, e o gabinete paralelo de Abdallah Al-Theni – não reconhecido pela comunidade internacional -, no leste, uma região controlada de fato pelas forças do marechal Khalifa Haftar.

Nem Al-Sarraj nem Al-Theni estiveram presentes na cerimônia.

– “Representativo de todos os líbios” –

O novo Executivo terá de unificar as instituições e garantir a transição até as eleições de 24 de dezembro, data em que sua missão terminará.

Apresentando-se como “representante de todos os líbios”, o governo de Dbeibah é composto por dois vice-primeiros-ministros, 26 ministros e seis ministros de Estado.

Cinco ministérios, entre eles o das Relações Exteriores e o da Justiça, foram atribuídos às mulheres, um fato inédito neste país de sete milhões de habitantes.

Abdelhamid Dbeibah, um empresário do setor da construção de Misrata (oeste), sem uma linha ideológica clara, ocupou, sobretudo, postos de alto perfil na gestão Khadafi.

Nas reuniões de Genebra, Dbeibah, conhecido por ser próximo da Turquia, surgia como uma figura marginal frente aos caciques da política líbia.

Os desafios que o esperam no país são colossais, após 42 anos de ditadura e de uma década de violência, após a intervenção internacional em março de 2011, sob a égide da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), encerrada em outubro daquele mesmo ano com a morte de Khadafi.

Apesar do fim dos combates entre os dois lados líbios no verão de 2020, seguido da assinatura de um acordo de cessar-fogo em outubro, o país permanece mergulhado na luta por poder, enfrentando a influência das milícias, a presença de mercenários estrangeiros e o peso da corrupção.

Neste país, que conta com as maiores reservas de petróleo da África, as infraestruturas estão devastadas; os serviços públicos, em estado de agonia; e a população, bastante empobrecida.