Charles III foi oficialmente proclamado o novo monarca do Reino Unido neste sábado (10), abrindo uma nova era na história de um país que se prepara para se despedir de Elizabeth II, sua guia e símbolo de estabilidade por sete décadas.

Em uma cerimônia solene televisionada do Palácio de Saint-James em Londres, na presença de seu herdeiro William, da rainha consorte Camilla, da primeira-ministra Liz Truss e seus antecessores vivos, o Conselho da Ascensão assinou a proclamação do novo rei.

Príncipe William promete apoiar seu pai, Charles 3°

“O príncipe Charles Philip Arthur George se torna agora, pela morte de nossa soberana de feliz memória, o nosso rei Charles III… Deus salve o rei!”, proclamou o conselho antes que o próprio monarca fosse chamado à sala.

“O reinado da minha mãe foi inigualável pela sua duração, dedicação e devoção (…) Estou profundamente consciente desta grande herança e dos deveres e pesadas responsabilidades da soberania, que agora me são transmitidos”, declarou o novo monarca de 73 anos.

Após a cerimônia, a proclamação foi lida ao público de uma varanda do palácio, ao som das trombetas reais e na presença da guarda real.

Uma segunda proclamação foi feita em outros pontos de referência no país, como a City, coração financeiro de Londres. Representantes de seu governo local desfilaram vestidos com uniformes medievais coloridos e carregando um cetro de ouro e uma espada pesada como símbolos de poder.

Viver sem a avó

“Todos nós queremos o melhor para ele, mas será um rei diferente”, disse à AFP Malcolm Tyndall, de 54 anos, diretor de uma instituição beneficente de Londres, visivelmente emocionado e segurando um buquê de flores nos braços.

Seguindo um protocolo cuidadosamente elaborado há muito tempo, o filho mais velho da falecida rainha se instala lentamente como chefe de Estado e nos corações do povo britânico.

Os membros do Parlamento juraram fidelidade ao monarca durante uma sessão excepcional no sábado. Depois, Charles III deveria voltar a receber Truss e os principais membros do seu executivo, recentemente nomeados na terça-feira.

No seu primeiro discurso televisionado como Charles III, o novo monarca elogiou na sexta-feira a sua “amada mãe”, uma “modelo” e uma “inspiração” sempre “ao serviço do povo”.

Seu filho William, que herdou o título de príncipe de Gales, expressou no sábado sua tristeza diante da perspectiva de viver “sem a avó” e prometeu “apoiar” seu pai como novo rei.

Elizabeth II, após sua morte aos 96 anos em seu castelo escocês de Balmoral depois de sete décadas de reinado, comovendo o Reino Unido, a Commonwealth e o mundo.

Durante uma missa na sexta-feira na catedral de St Paul, em Londres, o hino britânico foi cantado com uma letra modificada, “God save the King”, pela primeira vez em 70 anos.

Funeral em 19 de setembro

O Palácio de Buckingham confirmou que o funeral de Estado será celebrado em 19 de setembro a partir das 11h (7:00h, em Brasília) na Abadia de Westminster, dia declarado feriado nacional por Charles III.

A sua última viagem a Londres está marcada para terça-feira de avião para vários dias de homenagem pública e o funeral, ao qual devem comparecer dignitários de todo o mundo, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

As autoridades estimam que mais de um milhão de pessoas passarão pelo caixão da falecida rainha no Westminster Hall, o edifício mais antigo do complexo do Parlamento britânico.

Enquanto isso, a Escócia prepara as primeiras homenagens públicas ao caixão de Elizabeth II. No domingo, ele será transferido do Castelo de Balmoral para o Palácio de Holyroodhouse, a residência oficial dos monarcas em Edimburgo, e um dia depois para a vizinha Catedral de Saint Giles.

No sábado, os membros da realeza, incluindo seus outros filhos – a princesa Anne e os príncipes Andrew e Edward – contemplaram as flores e acenaram para as pessoas do lado de fora de Balmoral.

Futuro complicado

Nenhum soberano britânico esperou tanto tempo para assumir o trono e Charles III terá que esperar um pouco mais pela cerimônia de coroação, ainda sem data. Sua mãe esperou mais de um ano.

Após a enorme popularidade de Elizabeth II, a ascensão de Charles III, menos apreciado pela opinião pública, abre um período delicado para uma monarquia que enfrenta múltiplos desafios, desde o desejo de alguns países da Commonwealth de se distanciar até as críticas ao seu passado colonial e escravista.

Além disso, o Reino Unido enfrenta sua pior crise econômica em 40 anos e viu quatro primeiros-ministros passarem em seis anos.

As divisões correm por todo o país sobre o Brexit e sobre os desejos de independência na Escócia e na Irlanda do Norte.

Mas, aplaudido por milhares de pessoas em sua chegada ao palácio na sexta-feira, o novo rei pode estar começando a conquistar o coração de alguns britânicos.