Chandon pode se gabar de um feito raro: consolidou-se como uma marca global e, ao mesmo tempo, incorporou ao seu DNA as culturas dos seis países em que produz. Parte da família de 23 marcas de bebidas, que faturou 4,9 bilhões de euros em 2020 para o maior conglomerado de luxo do mundo, o grupo francês LVMH, a companhia abraça o planeta de ponta a ponta. Dos pés das montanhas Helan, na China, aos vales do condado de Napa, na região da Califórnia, nos EUA, a rede de 16 vinhedos em três continentes permitiu à Chandon adotar como lema viver sob o “sol que nunca se põe”. Nascida nas terras de Mendoza, região de cordilheira na Argentina, em 1959, a multinacional foi expandindo suas raízes. Chegou ao Brasil e aos Estados Unidos em 1973, depois à Austrália, em 1986. Foi se firmar no solo oriental mesmo só em 2013, com a produção chinesa, e, em 2014, com a vinícola na Índia. Essa jornada permite ao negócio seguir seu próprio ritmo de maturação. Mais de 60 anos depois, a empresa enfrentou o maior desafio da sua história com o advento da pandemia da Covid-19, que derrubou o consumo mundial de espumantes em 8% em 2020, segundo a consultoria IWSR, e suspendeu os planos e comemorações na Chandon. Hoje, depois de quase dois anos de isolamento social, seu horizonte enfim voltou à fase borbulhante.

O renovado otimismo de Sibylle Scherer, CEO global da Chandon, permite que a executiva alemã jogue uma nova luz sobre o passado recente. “Se olharmos para o desaparecimento da demanda ligada a eventos sociais, a retração do mercado não foi tão brusca”, disse em entrevista à DINHEIRO. “Graças aos novos hábitos, essa queda foi amortecida.” Além da migração para o consumo doméstico e adaptação para a compra on-line, ela conta que neste ano a empresa está vendo o aumento do tíquete médio. As vendas em 2021 já alcançaram o patamar pré-pandemia — ainda sem contabilizar o fim de ano, que marca o pico no setor. E esse novo cenário está dando espaço para a companhia voltar a se empolgar com o futuro.

ON ICE Novo logo da marca no rótulo do Passion, que deve ser bebido com pedras de gelo: sucesso entre brasileiros. (Crédito:Divulgação)

Sibylle esteve em São Paulo no começo deste mês para celebrar a retomada. Abrindo o novo capítulo da marca no País, a operação brasileira idealizou a Casa Chandon, um espaço temporário na capital paulista para imersão no universo dos espumantes. Aberta ao público até o domingo (14), a iniciativa procurou rejuvenescer o universo Chandon ao propor novas combinações para os produtos nacionais. No bar lounge, o público foi apresentado a drinques assinados por mixologistas como Heitor Marin, que comanda o Seen, do Hotel Tivoli Mofarrej. O projeto vinha sendo desenhado havia três anos e teve de ser adiado pela pandemia. Além da instalação, as garrafas foram repaginadas. Hoje em cores vibrantes e com logo na vertical, a Chandon busca atrair outros públicos para o seu mundo.

A transformação faz ainda mais sentido neste momento. Só no último triênio, a categoria de espumantes triplicou de tamanho. Dados da plataforma Statista apontam que a comercialização já movimentou US$ 35,6 bilhões neste ano, alta de 8% na comparação com 2020. No Brasil, segundo a Ideal Consulting, o abastecimento de espumantes movimentou R$ 2 bilhões no ano passado. Por aqui, a elevação das categorias de consumo está ajudando a sustentar essa expansão, mesmo ante a desvalorização do real. Até 2025, o consumo nacional deve crescer no ritmo de 10% ao ano.

DNA DE INOVAÇÃO A evolução do setor traz um desafio. Em um mercado mais premium, as exigências também são mais altas. Só no Brasil, os rótulos nacionais se qualificaram a ponto de terem registrado o recorde de 147 medalhas em premiações em 2020, segundo a Associação Brasileira de Enologia (ABE). Em resposta ao novo momento, a Chandon evoca a sua história ao passo que desenha um plano de negócio voltado para a inovação e para a sustentabilidade. “Queremos que a empresa exista daqui a 200 anos, por isso precisamos promover essa agenda”, afirmou Sibylle. Em outubro, a LVMH inaugurou o centro de pesquisa científica voltado para práticas sustentáveis em viticultura. “Como líderes, nossa responsabilidade é levantar discussões, compartilhar conhecimento e apontar os caminhos para nossos parceiros.”

A postura deu espaço para o nascimento do Chandon Aperitif. Desenvolvido na Argentina, combina espumante à base de uvas Chardonnay, Pinot Noir e Semillon das vinícolas de Mendoza com a infusão de licor amargo de raspas e casca de laranja Valência orgânica, ervas e temperos locais. O sucesso de crítica e público foi tamanho que a criação foi rebatizada de Chandon Garden Spritz e lançada em julho nos mercados europeu e norte-americano. A bebida foi responsável por dobrar as vendas estimadas para este ano na Europa.

Primeira produção da Chandon a cruzar fronteiras, apesar da proximidade geográfica, por ora, não há perspectivas de trazer o novo espumante para o País. Os curiosos precisarão viajar para um desses países ou importar a garrafa, cujo valor médio é de US$ 30. A decisão da empresa está ligada à inclinação do brasileiro a um paladar mais frutado, refrescante e doce. É o que explica o sucesso do Chandon Passion, um demi-sec rosé nacional, com predominância de aromas floral e de frutas, ideal para servir gelado. No Brasil, a marca está trabalhando novidades para comemorar seus 50 anos em território nacional, que serão completados em 2023. Até lá, o projeto segue sob sigilo. A CEO defende o ritmo de criação, estabelecido pelo rigoroso processo artesanal a que está submetido o aperfeiçoamento da fórmula de espumantes. “Luxo é um produto sustentável e que se conecta com o tempo”, disse. Enquanto respeita o intervalo de inovações, a Chandon volta a celebrar a retomada dos planos de negócio.