O chanceler alemão Olaf Scholz, que diz ser complacente em relação a Moscou, visitará Washington na segunda-feira para esclarecer dúvidas sobre a posição da Alemanha sobre a crise ucraniana.

O social-democrata de 63 anos, que substituiu Angela Merkel como chanceler há dois meses, falará com o presidente Joe Biden em particular sobre as tensões na Ucrânia.

Segundo a revista Spiegel, o chefe do governo alemão terá que se preparar para uma chamada à ordem.

“Pode-se esperar com segurança que Joe Biden irá sugerir ao chanceler alemão a ser mais assertivo com Moscou. Ele mais uma vez o fará entender que o gasoduto Nord Stream 2 estará morto se Putin atacar a Ucrânia”, observou a revista.

Moscou enviou dezenas de milhares de soldados para a fronteira ucraniana, o que para o Ocidente é a prova de que lançará uma operação militar. Kremlin nega.

Washington se irritou com Berlim por sua recusa em permitir o envio de armas para a Ucrânia, sua mensagem às vezes confusa sobre possíveis sanções e, acima de tudo, sua recusa em cancelar o gasoduto que traria gás russo barato para a Alemanha.

O analista Constanze Stelzenmueller, da Brookings Institution, disse que as “declarações contraditórias” de Berlim sobre a Rússia geraram “confusão, decepção e duras críticas” em Washington.

“A visita de Scholz a Washington é uma oportunidade para reparar sua imagem danificada da coalizão” no Ocidente, disse à AFP.

– “Estão loucos” –

A presidente do comitê de defesa do parlamento alemão, Marie-Agnes Strack-Zimmermann, foi ainda mais assertiva com a posição do governo Scholz em Washington.

“Em alguns círculos (políticos) nos Estados Unidos há a impressão de que os alemães são loucos”, disse ele à AFP.

Scholz chegou ao poder em dezembro à frente de uma complexa coalizão dos social-democratas, dos verdes (ambientalistas) e dos empresários democratas livres.

Eles tiveram um começo difícil com o aumento nas infecções por coronavírus e a perspectiva de uma invasão russa da Ucrânia.

Scholz sempre lutou com sua mensagem, dadas as divisões no governo e a influência dos partidários de Putin dentro de seu partido, que tendem a ver Washington com mais suspeita do que Moscou.

– Postura de segurança –

Apesar das disputas ocasionais, os laços transatlânticos têm sido o maior obstáculo da diplomacia alemã desde a Segunda Guerra Mundial.

John Kornblum, ex-embaixador dos EUA na Alemanha, observou que Berlim e Washington têm noções diferentes sobre estabilidade.

“A Alemanha é um país que não gosta de correr riscos, é um país que se sente confortável quando outros correm riscos”, disse ele recentemente ao podcast de política externa da Universidade Johns Hopkins.

Em várias questões-chave, disse ele, “a Alemanha não tem estado muito alinhada com seus parceiros europeus”.

Sobre a espinhosa questão do gasoduto, a linguagem de Scholz mudou e agora ele aceita que o projeto seria cancelado, caso a Rússia invada.

Michael Roth, presidente do comitê de relações exteriores do parlamento alemão, disse que algumas das críticas contra Scholz se devem aos esforços dos republicanos nos Estados Unidos para minar a reaproximação com Biden.

“O mais importante é mostrarmos a Biden que nós, europeus, estamos dispostos a defender a segurança, a paz e a estabilidade em toda a Europa”, disse ele à AFP.

O chanceler alemão também viajará este mês para Ucrânia e a Rússia depois de consultar seus colegas europeus.