Depois de alcançar US$ 3,1 bilhões em valor de mercado e se tornar o sexto unicórnio mais valioso da América Latina, segundo a plataforma CB Insights, a Nuvemshop está pronta para voos mais altos. Com parte dos R$ 2,6 bilhões captados na última rodada de investimento, liderada pelos fundos Insight Partners e Tiger Global Management, em agosto, a empresa comprou a plataforma Mandaê, de soluções logísticas para pequenas e médias empresas, e promete estar apenas no início da sua expansão no setor. O movimento (de valor não revelado) foi antecipado à DINHEIRO e marca a entrada da operação na frente logística, uma peça-chave do plano para crescer 20 vezes nos próximos cinco anos. “Faremos mais rodadas de investimentos e cogitamos realizar IPO nesse período para manter o ritmo de desenvolvimento na região”, afirmou Alejandro Vázquez, cofundador da Nuvemshop.

Apesar das projeções ambiciosas para o negócio, o executivo descarta seguir com novas aquisições no curto prazo. “Não sairemos comprando parceiros só porque estamos com dinheiro em caixa.” Na verdade, a estratégia da Nuvemshop para sustentar o crescimento rápido se apoiará em dois pilares: ampliar a sua rede de soluções, para a qual hoje tem mais de 1 mil fornecedores, e reforçar a equipe. Isso porque a companhia acredita que manter sua proposta de plataforma aberta – como uma agregadora de serviços para e-commerce de PMEs – é a melhor forma de garantir competitividade no setor. “Com esse dinheiro, nosso foco será dobrar o time [de 600 funcionários] nos próximos 18 meses para nos desenvolver na América Latina. Em cinco anos, teremos 5 mil pessoas trabalhando conosco”, disse Vázquez. Nos próximos dois anos, a empresa, que já tem operações no Brasil, na Argentina e no México, quer se consolidar no Chile, na Colômbia e no Peru.

FORÇA DE GRANDES Integração da demanda confere à Nuvemshop peso de gigantes do varejo em negociações de taxas de frete e prazo de entrega. (Crédito:Divulgação)

Como líder do segmento com 100 mil clientes na região, a startup de soluções para o comércio virtual de pequenos e médios negócios viu sua carteira quase triplicar durante a pandemia. Ao todo, as vendas pela plataforma devem movimentar R$ 7 bilhões neste ano, o dobro do volume de 2020. As compras no Brasil representaram 37% do montante no ano passado. Apesar do salto de 166% na comparação com 2019, a fatia representa R$ 1,3 bilhão dos R$ 120 bilhões transacionados por e-commerce no País, segundo estimativa da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico.

O aumento de demanda dos lojistas nacionais, que faturaram R$ 1 bilhão na plataforma só no primeiro semestre de 2021 – alta de 144% contra o mesmo período do ano anterior – está puxando a expansão da Nuvemshop. “Na comparação com os outros países, a PME brasileira usa a plataforma de forma mais sofisticada”, afirmou o executivo. “A experiência de compra aqui passa por oferecer condições de pagamentos variadas e frete grátis, mesmo entre os pequenos.”

NOVA FRONTEIRA Nuvemshop e Mandaê levaram menos de dois meses para chegar ao acordo de integração das operações. O interesse em evoluir os serviços logísticos para as PMEs no Brasil, onde os empreendedores ainda dependem essencialmente dos Correios, acelerou a negociação. Para Marcelo Fujimoto, fundador do Mandaê, o volume de compras on-line durante a pandemia aumentou o poder de barganha das grandes varejistas sobre o frete. “O que provocou as transportadoras a descer na base de mercado para atender empresas de porte médio”, afirmou. “Mas o segmento de pequenos negócios ainda é muito carente de soluções.”

Claudio Gatti

“O segmento de pequenos negócios ainda é muito carente de soluções” Marcelo Fujimoto fundador da Mandaê.

Como o nome sugere, a Mandaê se responsabiliza pela coleta e envio dos produtos num modelo de operação leve, o que é possível pela tecnologia que conecta pequenos e-commerces e transportadoras dentro da plataforma. Da fundação, em 2013, até hoje, a startup levantou US$ 11,3 milhões em quatro rodadas de investimentos, segundo dados do Crunchbase, e atendia principalmente comerciantes de São Paulo. Com a união, as empresas começam a expandir suas fronteiras.

O mercado logístico no País inda é um ambiente altamente pulverizado, em que operam 150 mil empresas, e ainda sofre com os gargalos de infraestrutura que tornam o transporte de longa distância custoso, especialmente para movimentar pequenos volumes – caso das PMEs. Por isso é comum no Brasil que as transportadoras tenham foco regional. Ao coordenar a demanda do seu ecossistema em escala nacional, a Nuvemshop tem a vantagem dos gigantes para negociar taxas e prazos de frete. Algo especialmente estratégico com a perspectiva de privatização dos Correios, cenário em que a expectativa é de subida das taxas de entrega.

Como plataforma aberta, a startup ainda transformou concorrentes em parceiros pela integração de marketplaces. O serviço permite que pequenos empreendedores ofereçam em suas lojas virtuais produtos do catálogo dos grandes e-commerces. Além do Mercado Livre e do Magazine Luiza, no começo do ano, a parceria se estendeu ao varejista chinês AliExpress. Por ora bem-sucedida em acompanhar esse ecossistema de mercado, a Nuvemshop vem ganhando impulso para a decolagem (quase vertical) do seu negócio.