Em 2002, ao se instalar no Boulevard de la Madeleine, maior reduto gastronômico de Paris, a primeira filial da Lavinia na França, fundada três anos antes em Madri por dois empresários franceses, revolucionou a forma de distribuir e comercializar vinhos no país. O nome, italiano, foi escolhido pela fácil pronúncia em vários idiomas ­— e por soar, em espanhol, como la viña, o vinhedo. Desde a inauguração, provou ser uma das lojas de vinho mais inovadoras e bem-sucedidas do planeta. Para muitos, a melhor. Até fechar as portas, na noite de sábado (9), seguindo o anúncio feito na véspera. C’est fermé.

O encerramento das atividades surpreendeu os amantes do vinho. Com 1,5 mil m2 em três andares, a loja oferecia uma variedade surpreendente de rótulos, dos clássicos franceses aos arrojados e premiados exemplares do novo mundo. Os preços partiam de € 3 e chegavam aos € 36 mil a garrafa. As vendas eram feitas pelo sistema de autoatendimento assistido, com sommeliers sempre ao alcance dos clientes. Havia oferta de bebida para consumo em taças, uma área de livros e outra de acessórios.

Se o início não pareceu dos mais animadores em termos de rentabilidade, o modelo foi aos poucos conquistando turistas e os próprios parisienses. Com cerca de 6 mil rótulos, a loja abriu espaço para um bar voltado para degustações harmonizadas com tapas (especialidades espanholas para “beliscar”) a qualquer hora do dia, além de um restaurante concorridíssimo, com vinhos vendidos a preço da loja. Parecia uma ameaça até à rede Nicolás, fundada em 1822 e que tem uma filial a 350 metros dali.

Seguiu-se uma segunda unidade na capital francesa, na região de La Défense. Por meio da subsidiária Vins du Monde, a Lavinia passou a distribuir vinhos para restaurantes. Lançou-se no negócio de presentes corporativos, entregas em domicílio e foi pioneira em vender vinhos on-line. Vieram novas lojas em Madri e Barcelona, além de franquias na Ucrânia e uma subsidiária em Hong Kong. Mas a loja da Madeleine ainda era o carro-chefe. Em 2015, dos € 40 milhões em vendas, € 17 milhões foram dos caixas dali. Uma parte, graças ao público brasileiro, que por vários anos gastou mais que americanos, russos ou chineses.

SEM COMPRADORES Entre os motivos apontados para o fechamento da megaloja estão as sucessivas manifestações dos “coletes amarelos” e as restrições impostas pela Covid-19, que afastaram clientes locais e turistas da região. A venda de vinhos para restaurantes também teve de ser cancelada devido à pandemia. No ano passado, a Fauchon, boutique gourmet mais luxuosa de Paris, instalada na Plade de Madeleine desde 1886, não resistiu às baixas provocadas pela quarentena. Entrou em processo de recuperação judicial e fechou duas lojas na região (restaram, na Madeleine, apenas a casa de chá e o café da marca). Parecia um prenúncio do destino da Lavinia. Ainda em 2020, a unidade da marca em La Défense foi fechada e a subsidiária Vins du Monde, vendida.

Em comunicado, o casal que comanda o grupo (a atual presidente, Charlotte Servant, filha de um dos fundadores, e seu marido, Mathieu Le Priol, diretor-geral) informou que não se trata do encerramento da operação de varejo da Lavinia. Uma nova loja da marca será inaugurada em até 18 meses em outro distrito de Paris.