O inesperado cessar-fogo anunciado pelos talibãs está sendo respeitado globalmente em seu segundo dia no Afeganistão, nesta segunda-feira (25), depois de o presidente Ashraf Ghani ter prometido, ontem, libertar 2.000 insurgentes presos.

“O cessar-fogo é respeitado. Nenhuma violação foi relatada até agora”, disse à AFP o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Javid Faisal.

Na cidade de Kunduz, no norte do país, atacada pelos talibãs na semana passada, os moradores comemoraram em silêncio o Eid al-Fitr, o festa muçulmana mais importante que marca o fim do Ramadã.

Antes, “havia incessantes combates”, mas “não houve um único tiro desde o cessar-fogo”, relatou o chefe de polícia da província de Oruzgan, Haji Lal Agha.

Já o porta-voz do Ministério do Interior mencionou um ataque com morteiros na província de Laghman, perto de Cabul. Cinco civis teriam morrido.

As forças de segurança afegãs também lamentaram outros incidentes isolados, como ataques e a explosão de artefatos, que deixaram mortos.

Ao ser questionado pela AFP, o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mudjahid, disse “não ter, até agora, informação sobre violações do cessar-fogo”.

Os talibãs – que não estão mais lutando contra tropas estrangeiras, mas multiplicaram recentemente seus ataques contra as forças afegãs – surpreenderam na noite de sábado, decretando um cessar-fogo unilateral para que a população “possa comemorar em paz e tranquilidade” o Eid al-Fitr.

– Primeiro cessar-fogo talibã –

Desde que uma coalizão internacional liderada pelos EUA os expulsou do poder em 2001, é a primeira vez que o grupo propõe baixar temporariamente suas armas.

O presidente Ghani aceitou a oferta imediatamente. No domingo, prometeu acelerar a soltura de até 2.000 presos talibãs e disse que está preparado para iniciar negociações de paz com os insurgentes.

Segundo Javid Faisal, cerca de 100 detentos talibãs foram soltos nesta segunda-feira, e outros 100 serão libertados todos os dias, “até atingir 2.000”.

A medida está prevista no acordo assinado em 29 de fevereiro em Doha, entre Washington e os talibãs. O pacto não foi ratificado por Cabul.

Essa ampla troca de prisioneiros – até 5.000 talibãs contra 1.000 integrantes das forças afegãs – deveria ter terminado em 10 de março, mas muitos obstáculos interferiram nesse processo.

Até agora, Cabul libertou em torno de mil presos, e os talibãs, cerca de 300.

Este acordo também prevê a retirada de forças estrangeiras do Afeganistão em 14 meses, desde que os insurgentes garantam compromissos de segurança e iniciem negociações sobre o futuro do país com o governo.

Este é o segundo cessar-fogo no Afeganistão desde 2001. O anterior, proposto por Ghani, ocorreu durante o Eid al-Fitr de 2018. Os talibãs também chegaram a respeitar uma trégua parcial de nove dias, de 22 de fevereiro a 2 de março deste ano, por ocasião da assinatura do acordo de Doha.