Um cessar-fogo na província iemenita de Hodeida será aplicado a partir da meia-noite (19h desta segunda no horário de Brasília), anunciou a ONU, que citou “razões operacionais”.

A trégua deveria ter entrado em vigor na semana passada.

Na última quinta-feira, as delegações do governo e dos rebeldes huthis concluíram um acordo na Suécia, prevendo o cessar imediato das hostilidades na região. Violentos combates e ataques aéreos continuaram, porém, no final de semana em Hodeida, principal frente do conflito no Iêmen.

Segundo moradores de Hodeida contactados por telefone pela AFP, combates esporádicos aconteciam nesta segunda nas zonas leste e sul da cidade portuária por onde transitam ajuda humanitária e importações do país.

Uma autoridade das forças pró-governo confirmou troca de tiros e informou que outros combates aconteceram durante a noite, danificando uma fábrica no leste.

Segundo uma autoridade da ONU, os combates devem parar em algumas horas.

“É verdade”, disse, sob condição de anonimato, sobre a informação de que o cessar-fogo começaria à 0h00 local.

Esta mesma fonte justificou o atraso da aplicação da trégua por “razões operacionais”, sem fornecer mais detalhes.

Domingo à noite, o ministro iemenita das Relações Exteriores, Khaled al-Yemani, declarou à rede de televisão oficial do Iêmen que o cessar-fogo entraria em vigor à meia-noite. Os rebeldes huthis, que controlam a cidade de Hodeida, não reagiram.

Em virtude do acordo duramente negociado, um cessar-fogo “imediato” deveria ter entrado em vigor em Hodeida, enquanto a retirada dos combatentes se daria nos “próximos dias”.

Em razão dos confrontos, que deixaram 29 mortos, o enviado da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, pediu, no domingo, aos envolvidos na guerra que respeitassem a trégua.

No Twitter, o enviado ressaltou que “espera que as duas partes respeitem suas obrigações, conforme o texto e o espírito do acordo”.

– Resoluções hostis –

“As Nações Unidas trabalham em estreita colaboração com o governo iemenita e a Ansarullah (rebeldes huthis) para fazer cumprir as disposições do acordo de Hodeida”, acrescentou.

Já a organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) expressou preocupação com “a continuação dos combates em Hodeida”, acrescentando que suas equipes atendiam a muitos civis feridos.

A organização pediu respeito “aos civis e às instalações médicas”.

A cidade de Hodeida tem sido alvo de um assalto das forças pró-governo apoiadas pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, pilares de uma coalizão militar que entrou em 2015 no conflito para ajudar o governo iemenita contra os rebeldes.

Os huthis controlam vastas regiões do país, entre elas a capital, Sanaa.

O acordo de trégua é, sem dúvida, o mais importante desde o início da guerra, em 2014, mas sua aplicação exigirá forte pressão internacional, estimam os especialistas.

Desde 2014, a guerra no Iêmen já deixou 10 mil mortos e provocou uma crise de fome que põe em risco a vida de milhões de pessoas, segundo a ONU.

Na madrugada desta segunda-feira, a Arábia Saudita chamou de “ingerência” a votação de uma resolução no Senado americano para pôr fim ao apoio militar americano à coalizão liderada por Riad no Iêmen, e uma outra, sobre o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

“O reino condena a mais recente posição do Senado americano, que se fundamenta em suposições falsas, e afirma seu rechaço total a qualquer ingerência em seus assuntos”, declara o chanceler saudita em comunicado publicado no site da agência de notícias oficial saudita SPA.

“Se, por um lado, o reino da Arábia Saudita reafirma seu compromisso de continuar reforçando suas relações com os Estados Unidos, também expressa sua preocupação diante das posições manifestadas pelos membros de uma instância legislativa honrada de um Estado aliado e amigo”, assinala o ministério.

Ambas as resoluções foram aprovadas na última quinta-feira, com votos de senadores democratas e republicanos, e são simbólicas, uma vez que não podem ser debatidas na Câmara dos Representantes antes de janeiro e, provavelmente, seriam vetadas pelo presidente Donald Trump, que apoia o reino saudita.