Ex-ministra do Meio Ambiente e militante antiga em causas ambientais, a senadora Marina Silva é conhecida pela defesa do desenvolvimento sustentável. Ela sempre argumentou que é preciso aliar o progresso à preservação do meio ambiente, mas falava pouco sobre outros assuntos ligados à economia. Com índices de intenção do voto entre 8% e 10%, segundo as últimas pesquisas de opinião, a candidata à Presidência pelo Partido Verde vem tentando mostrar que está preparada para lidar com todas as áreas do governo. 

 

 

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“A competitividade do produto brasileiro no exterior precisa 
ser incentivada através de política tributária adequada” 

Na semana passada, foi a Nova York defender seus pontos de vista junto aos investidores americanos. Antes, respondeu a perguntas enviadas por CEOs de empresas e associações setoriais no Brasil, a pedido da DINHEIRO. 

 

Aqui, Marina fala sobre temas que afetam o dia a dia das empresas e do País, como taxa de juros, tributação, infraestrutura, logística de transportes e política habitacional. “Os tributos que incidem sobre os investimentos devem ser reduzidos, mantendo, no entanto, os impostos sobre os lucros”, afirma. 

 

Ela também defende o aumento do IOF para capitais estrangeiros e uma política tributária que aumente a competitividade das exportações brasileiras. A candidata é favorável ao estímulo à construção civil e à continuidade do Minha Casa Minha Vida, mas diz que é preciso ampliar o programa para além da construção de casas. 

 

“Precisamos encarar seriamente o combate à precariedade urbana na grande maioria das cidades brasileiras. Precisamos evoluir para a adequação das cidades, com sistemas de infraestrutura, com moradia digna, com transporte público decente”, afirma. A Dinheiro também enviou perguntas de líderes empresariais aos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). 

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Rubens Menin Teixeira de Souza, 
presidente da MRV Engenharia e Participações S/A
 

Qual é a sua visão do atual programa habitacional Minha Casa Minha Vida e qual a sua expectativa de continuidade no próximo governo?

 

É uma importante iniciativa que ainda precisa evoluir. Pontos positivos: continuidade do financiamento, papel importante da construção civil como geradora de empregos e ampliação do crédito e oportunidade para milhares de brasileiros obterem sua casa. Para onde deve evoluir: construir casas é importante, porém, precisamos encarar seriamente o combate à precariedade urbana na grande maioria das cidades brasileiras. Boa parte dessa precariedade vai além da necessidade de construção de casas. Precisamos evoluir para a adequação das cidades, com sistemas de infraestrutura, com moradia digna, com transporte público decente. Uma forma de fazer isso é aproximar o programa da Política Nacional de Habitação, garantindo a continuidade e ampliação dos investimentos, o fortalecimento da capacidade dos municípios financiarem o seu desenvolvimento urbano e, principalmente, criar mecanismos e incentivos para que possamos alinhar a enorme capacidade da indústria da construção civil à necessidade de combater a precariedade urbana e incluir nas cidades as populações menos favorecidas.

 

 

 

 

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Luiz Aubert Neto, 
presidente da Associação Brasileira da 
Indústria de Máquinas e Equipamentos

 

 

Qual será a política adotada por seu governo em relação aos juros e ao custo Brasil? 

 

As taxas altas de juros se devem a várias causas, mas uma das mais importantes está relacionada com o endividamento público. O governo necessita rolar cerca de R$ 40 bilhões por mês de sua dívida (R$ 1,6 trilhão), o que pressiona a elevação dos  juros para atrair investidores. A alternativa é reduzir o principal fator de pressão sobre os juros, abrindo espaço no orçamento para financiar a dívida. Nossa proposta é: a) cortar gastos desnecessários, evitar desperdícios e conter o crescimento dos gastos públicos em relação ao PIB; b) cobrar eficazmente a dívida ativa de programas extraordinários de anistia fiscal por meio de estratégias mais sólidas de recuperação de créditos tributários; c) simplificar a cobrança de impostos e tornar mais onerosas eventuais sonegações. Estas medidas poderiam permitir alongar o perfil da dívida, aumentar a oferta de crédito e dispensar a exigência de taxas de juros elevadas. Se isso for acompanhado por investimentos produtivos (estimulados pela baixa de juros), haverá oferta suficiente para satisfazer à demanda sem pressões inflacionárias. Os pontos principais de uma reforma tributária seriam a redução da regressividade dos tributos e redefinição da divisão do bolo tributário dentro de um novo pacto federativo, com maior grau de descentralização. Os tributos sobre os investimentos devem ser reduzidos, mantendo, no entanto, os impostos sobre os lucros. Deverá haver uma tributação maior sobre ganhos financeiros e tributação sobre o patrimônio.

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Humberto Barbato, 
presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

O real valorizado e os juros altos afetaram a competitividade das empresas e o processo de desindustrialização já é uma realidade entre as indústrias eletroeletrônicas. Como pretende conduzir a política cambial? 

 

Quanto maior for a diferença entre os juros daqui e os do mercado internacional, maior será a atração de capital externo e a valorização do real. Uma das medidas a serem tomadas enquanto não se reduzem os juros é o aumento do IOF para a entrada de capitais a serem aplicados no mercado financeiro para evitar o “contágio” da política cambial pela política monetária, em situações conjunturais extraordinárias. A competitividade do produto brasileiro no Exterior precisa ser incentivada através de política tributária adequada e crédito para investimentos na modernização da produção. É preciso reforçar a coordenação internacional para evitar estratégias cambiais unilaterais que alteram as condições de competitividade nacionais, caso da China.

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Horácio Lafer Piva, 
sócio da Klabin

Sob a ótica da sustentabilidade, o que fazer com tanta área de pastagens no Brasil: mantê-las ou substituí-las por outras culturas? 

 

Precisamos acabar com o desperdício que temos no uso das áreas hoje ocupadas por pastagem. Temos quase 200 milhões de hectares de pastagens, equivalentes a quase um quarto do território, e uma taxa de ocupação de menos de um animal por hectare. Temos tecnologia da Embrapa que permite colocarmos pelo menos três animais por hectare, em média. Assim, é possível dobrar a produção pecuária e ainda dobrar a área destinada à produção agrícola e florestal sem precisar desmatar um único hectare e ainda promover a recuperação de áreas florestais. Este é o caminho de uma economia de baixo carbono e de grande geração de empregos.

  

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Luiz Lara, 
CEO da Lew’Lara/TBWA

 

A sra. é favorável a que a Anvisa legisle sobre propaganda, criando restrições e até proibindo certas mensagens publicitárias?

 

Sim, e também da autorregulamentação. Entendo que são papéis complementares, e não excludentes.  A Anvisa tem um papel importante para fortalecer a capacidade do governo de atender a segurança alimentar e promover a saúde da população. Vale citar o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), que desde 2001 avalia os níveis de resíduos de agrotóxicos nos alimentos in natura que chegam à mesa do consumidor. Não é restringir a liberdade de expressão, mas sim fornecer informação de qualidade para evitar que as pessoas fiquem doentes, algo fundamental para que possamos utilizar melhor os recursos disponíveis para atender a todos os brasileiros.

 

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Paulo Simão, 
presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção Civil

 

A indústria da construção representa 9,2% do PIB e emprega mais de dez milhões de pessoas em toda a cadeia produtiva. Para que o setor continue aquecido, é necessário que o Brasil acompanhe a modernização que ocorre em outros países, investindo em inovação tecnológica e no aumento da eficiência energética e na desoneração de tributos, entre outros aspectos. Como a sra. vê o papel do Estado como indutor dessa modernização? 

 

Sou favorável à desoneração de tributos sobre materiais de construção por duas razões: primeiro, porque isso estimula uma atividade que gera emprego, e, segundo, porque isso permite a redução de custos da produção de moradias e facilita também a autoconstrução e reformas/ampliações de moradias, especialmente dos setores mais pobres. Outra medida para baratear a construção é a utilização dos mecanismos do Estatuto da Cidade para reduzir o preço dos terrenos, com estímulo aos prefeitos para a determinação de Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social) e o mecanismo da Edificação Compulsória. Não podemos esquecer que a modernização do setor passa também pelo combate aos oligopólios e cartéis em determinados mercados de materiais para a construção civil e que impedem um preço mais baixo para as moradias.

 

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Luiza Helena Trajano, 
presidente do Magazine Luiza

 

Caso eleita, quais serão os investimentos para melhorar a logística no País e incentivos para o microempresário do setor de transportes renovar sua frota?

 

Creio que a logística num país de dimensões continentais como o nosso constitui um gargalo ao crescimento econômico. O setor de transportes é um dos fundamentais, sem esquecer o relacionado com o armazenamento e serviços portuários. Um país campeão na produção de grãos como o nosso tem que possuir infraestrutura adequada e os estímulos ao investimento (renovação de frotas inclusive) deverão ser uma das prioridades do BNDES. Nas grandes cidades, a renovação da frota é um fator importante de redução da poluição, juntamente com a melhoria do trânsito proporcionada por transporte público de boa qualidade e barato.