Ex-ministra forte de um governo com enorme popularidade, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, enfrenta o desafio de impor sua própria marca à campanha. Líder nas pesquisas de intenção de voto, a candidata vem crescendo à medida que se torna mais conhecida dos eleitores e conforme estes ficam sabendo que ela é a candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nas últimas semanas, Dilma fez uma grande transformação não apenas no visual, mas também na maneira de se dirigir aos eleitores, num esforço para aplacar as críticas de autoritária. Ela já participou de debates e deu entrevistas ao vivo na televisão. Também vem viajando pelo País para comícios e gravações dos programas que começam a ser veiculados no rádio e na televisão nesta semana. Nesta entrevista, com perguntas enviadas por CEOs de empresas e associações setoriais, a pedido da DINHEIRO, Dilma fala de suas prioridades para o governo, especialmente na economia. Ela promete reduzir os impostos sobre os investimentos, mas não se compromete com a redução das taxas de juros. “Infelizmente, baixar juros não é produto da vontade”, afirma. Dilma falou muito do PAC e do Minha Casa Minha Vida, dois programas que coordenou enquanto ocupava a chefia da Casa Civil e que pretende mostrar na campanha como indicativos da sua capacidade administrativa. Sobre o papel do Estado na economia, cita as medidas tomadas na crise econômica mundial como exemplos de como o governo deve intervir, mas não despreza o papel das empresas. “Na economia, são igualmente importantes o setor privado e o setor público”, afirmou. Na próxima semana, DINHEIRO, que já publicou a entrevista dos CEOs com Marina Silva (PV), faz o mesmo com José Serra (PSDB).

 

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Luiz Eduardo Baptista da Rocha, presidente da Sky

 

A sra. tem fama de autoritária e de pessoa pouco afeita ao diálogo. Como pretende liderar a política nacional sem provocar uma crise institucional?

 

Em toda a minha vida pública, que já é longa, sempre preferi o diálogo para resolver dúvidas e construir projetos. Lutei a minha vida toda pela democracia por acreditar que por meio dela construiríamos um país melhor. Minha principal experiência política foi, sem dúvida, a participação no governo do presidente Lula, em que acumulei uma grande experiência e muito aprendizado. Sou uma pessoa de posições firmes, mas não rígidas. De opiniões claras, mas não autoritárias.

 

 

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Marcos S. de Oliveira, presidente da Ford Brasil e Mercosul

 

Em sua opinião, quais as três palavras que descrevem o Brasil hoje e quais são as três palavras que a sra. gostaria que descrevessem o Brasil daqui a 20 anos?

 

Hoje: inclusão social, crescimento elevado, oportunidades. Daqui a 20 anos: país desenvolvido, de classe média e sem pobreza, com educação de alta qualidade.

 

 

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Conrado Engel, presidente do HSBC Bank Brasil

 

A relação investimento/PIB é ainda baixa para sustentar o crescimento almejado pela sociedade brasileira, assim como é baixa a participação do investimento público. O que a sra. fará para elevar a poupança pública e como será possível elevar os gastos de infraestrutura? 

 

Foi muito difícil recuperar a capacidade de planejamento e de investimento em infraestrutura nos últimos anos. O Brasil estava completamente desaparelhado para isso. O PAC teve principalmente esse objetivo: organizar a ação do governo, unir esforços de todas as áreas, convocar os empresários, prefeitos e governadores para um esforço nacional pela infraestrutura. 

 

 

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Sérgio Chaia, presidente da Nextel

 

Ainda há reformas estruturais importantes que não foram feitas, como a previdenciária, fiscal, trabalhista, etc. A sra. pretende atuar nesses problemas estruturais? 

 

Sim, sem dúvida. Mas acredito que não podemos nos atrapalhar querendo fazer todas as reformas ao mesmo tempo. Penso que devemos fazer boas escolhas e bons desenhos de reformas para termos sucesso. A questão tributária me parece essencial para a vida das empresas. Temos um sistema complexo, desordenado e caro. Simplificar e reorganizar o sistema tributário é uma de minhas prioridades. As reformas chamadas microeconômicas também são essenciais. Durante o governo Lula fizemos diversas, com excelentes resultados: o novo modelo elétrico, a reforma do Judiciário, a nova lei de recuperação de empresas, o crédito consignado, a reforma da construção civil, as novas normas contábeis, o sistema de resseguros, entre outras. Penso que esta pauta deve ser reorganizada no início do novo governo e devemos dar um novo impulso às reformas.

 

 

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Vitor Hallack, presidente do conselho de

administração da Camargo Corrêa S.A.

 

Quais serão as prioridades de seu governo na área de infraestrutura? 

 

O PAC 1 e o PAC 2 foram concebidos exatamente para elencar essas prioridades e organizar de forma concentrada os esforços dos entes públicos e privados para remover todos os obstáculos para os investimentos em infraestrutura. Há três grandes prioridades para o próximo período: a infraestrutura para a produção (estradas, ferrovias, portos, aeroportos, energia, etc); a infraestrutura social (saneamento, urbanização, habitação, etc); e a infraestrutura para o turismo, principalmente tendo em vista a realização da Copa da Fifa e da Olimpíada de 2016.

 

 

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Horácio Lafer Piva, sócio da Klabin

 

A sra. defende a participação direta ou apenas o apoio do Estado ao sistema produtivo?

 

Penso no Estado como regulador e indutor. Não acredito num Estado passivo. Áreas como planejamento, segurança, saúde e educação, entre outras, exigem uma forte e eficiente ação do Estado. Na economia, são igualmente importantes o setor privado e o setor público. Programas como Minha Casa Minha Vida mostram, na prática, nosso pensamento sobre o papel do Estado. Na crise recente, a ação anticíclica do governo, com medidas de incentivo fiscal, monetário e de crédito, mostrarou que um Estado ativo pode fazer toda a diferença no sentido de minimizar as perdas das empresas e das famílias nos momentos de maior dificuldade.

 

 

 

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Rubens Menin Teixeira de Souza, presidente

da MRV Engenharia e Participações S/A

 

Em relação ao programa habitacional do PAC 2, qual seria o orçamento do FGTS?

 

O total de investimento previsto é de R$ 71,7 bilhões para financiamento de dois milhões de moradias. Desse total, a previsão é de utilização de R$ 9,5 bilhões do FGTS e o restante virá do Orçamento-Geral da União e uma parte do Fundo Garantidor.

 

 

 

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Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira

da Indústria da Construção Civil

 

A indústria da construção representa 9,2% do PIB e emprega mais de dez milhões de pessoas em toda a cadeia produtiva. Para que o setor continue aquecido, é necessário que o Brasil invista em inovação tecnológica e no aumento da eficiência energética e desoneração de tributos, entre outros aspectos. Como a sra. vê o papel do Estado como indutor dessa modernização?

 

A reforma que fizemos na construção civil com a Lei 10.931 e as desonerações do material de construção e os incentivos ao crédito deram um novo patamar de desenvolvimento ao setor. O programa Minha Casa Minha Vida deu um novo e vigoroso impulso ao segmento popular. A retomada dos investimentos em infraestrutura também contribui significativamente para o desempenho do setor. Hoje, a construção civil é um dos setores mais vibrantes de nossa economia em função desses projetos e da melhoria da qualidade das empresas, que souberam acompanhar essas mudanças e obter importantes ganhos no mercado de capitais. Investir em novas tecnologias e em eficiência energética é, sem dúvida, um caminho promissor. Vejo que isto já está acontecendo, com muitas empresas criando produtos inovadores de boa qualidade, principalmente para o segmento popular. Se for eleita presidenta, darei todo incentivo para que o setor mantenha um bom ritmo.

 

 

 

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Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira

da Indústria de Máquinas e Equipamentos

 

O Brasil, apesar dos avanços, ainda tem uma das maiores taxas de juros do mundo e uma carga tributária que penaliza o investimento. Qual será a política adotada por seu governo em relação aos juros e ao custo Brasil?

 

O governo Lula já trabalhou muito nos últimos anos para reduzir os encargos federais, mas concordo que é preciso dar mais atenção a este campo e aumentar a competitividade das empresas. Este tema é prioritário para a reforma tributária que pretendemos fazer. Devemos completar a desoneração dos impostos federais para o investimento e, em acordo com os governadores, eliminar a cobrança de ICMS sobre o investimento.  Quanto às taxas de juros, temos conquistado, progressivamente, taxas de juros reais menores ao longo do tempo. Mas concordo que ainda temos taxas altas. Infelizmente, baixar taxas de juros não é produto da vontade, mas de reunir condições para isso. Penso que, com a perspectiva de queda de nosso endividamento, mantendo-se níveis adequados de poupança pública, vamos conquistar taxas de juros menores ao longo dos próximos anos.