A Transformação Digital é a frase do momento. Ela já está entre nós faz tempo e a pandemia do covid-19 só acelerou, e muito, essa questão. Mas porque é tão difícil fazermos essa transformação nas empresas? Essa expressão esconde as dores de CEOs e CIOs que precisam manter a eficiência operacional e a resiliência da empresa e, ao mesmo tempo, veem a necessidade de inovar seus processos para se manterem competitivos num mundo cada vez mais digital e exigente com a agilidade. Isso porque, no cenário atual, a inovação se tornou tão essencial quanto a manutenção da organização.

Neste ambiente complexo e quase predatório, as empresas ambidestras ganham destaque, pois o equilíbrio entre excelência operacional, inovação e agilidade é a chave para prosperar no novo mercado e obter diferencial competitivo, o sonho de todo CEO. Fazendo a analogia com o corpo humano, a mão direita mantém a eficiência enquanto a esquerda busca processos inovadores. Porém, para os CIOs, que viram o departamento de TI mudar bruscamente de uma área de apoio para ser estratégica e central para o negócio, as dores da inovação se tornaram mais latentes com a corrida da digitalização.

Enquanto o mundo digital ficou extremamente complexo com o uso intensivo das novas tecnologias, como a computação em nuvem, as aplicações distribuídas, a Inteligência Artificial, o uso massivo de dados e as inúmeras integrações, o time to market diminuiu e o consumidor ficou cada vez mais exigente. Enquanto os fundamentos sólidos, como a resiliência e a eficiência operacional, já estão estruturados na maioria das empresas, a inovação continua sendo um desafio, pois os dois modelos parecem ser antagônicos. Não ficar de fora da nova economia exige inspiração, criatividade e uma mudança de comportamento e pensamento das organizações. E isso só se faz com pessoas.

No tripé Tecnologia, Processos e Pessoas, é preciso investir fortemente nessa última. Essas pessoas precisam passar por uma forte mudança cultural a fim de entenderem as novas exigências do mundo atual, que somado à pandemia, tornaram os desafios ainda maiores. Para isso, é necessário buscar talentos que compartilhem a cultura da empresa e se adequem rapidamente às mudanças do mercado.

E como atrair, reter, engajar e inspirar pessoas num cenário de total apagão de mão de obra, o qual a busca por talentos está cada vez mais acirrada?

Olhando somente para a área de TI, segundo a Associação Brasileira das Empresas de TI e Comunicação (Brasscom), até 2024, teremos uma demanda nacional de 420 mil vagas tecnológicas abertas, sendo que apenas 46 mil pessoas são formadas por ano, o que acarreta aos líderes um problema matemático a ser resolvido.

Para agravar essa “falta” de profissionais de TI, a pandemia foi responsável por suspender as barreiras físicas entre as empresas e profissionais. Se já tínhamos um desafio para fazer contratações no nosso país, agora temos mais um, pois as empresas internacionais estão recrutando a todo vapor. Afinal, se o profissional está trabalhando a partir de sua casa, o código postal da organização perde a importância dada anteriormente.

Então, qual a saída? Neste momento, diante de todas essas dificuldades, o melhor caminho é manter a equipe interna cuidando da governança e dos sistemas legados para atender a eficiência operacional da organização, enquanto a inovação deve ser trabalhada com fornecedores especialistas, empresas que estão conectadas no novo, que possuem a experiência e tecnologias necessárias, e que tragam a agilidade para seu negócio. Ninguém faz mais nada sozinho, é custoso, demorado e caro. Contratar parceiros estratégicos e formar alianças é fundamental. No fim, o conhecimento adquirido dos novos projetos será incorporado pelo seu time de profissionais e a inovação será parte integral do seu negócio.

Liderar é reinventar seus negócios e levar a organização, assim como as pessoas, a um novo patamar. A maneira de lidar com essa engrenagem irá diferenciar as empresas que conseguirão avançar e se manter na vanguarda daquelas que sobreviverão (ou não) de forma mais marginal. A escolha de como agir neste momento de desafios será decisiva para o futuro de cada organização.

Marcel Pratte é CEO do Grupo Viceri, holding de tecnologia da informação especializada em desenvolvimento de software customizado, consultoria e produtos digitais, que completa 30 anos de atuação.