Este foi o ano da consolidação dos centros de inovação para startups em São Paulo. Com visual descolado e cheios de eventos, esses espaços – criados por bancos como Itaú e Bradesco ou as gigantes Google e Facebook – tiveram um movimento expressivo ao longo de 2018. Segundo matéria pública pelo jornal O Estado de S.Paulo, hoje, mais de 3 mil pessoas envolvidas em negócios inovadores de tecnologia trabalham em locais como Cubo (Itaú), Campus (Google), Habitat (Bradesco) e Estação Hack (Facebook). Há um ano, eram menos de mil postos de trabalho.

Veterano, o Cubo inaugurou em agosto uma nova sede na capital paulista. O espaço, mantido pelo Itaú, em parceria com o fundo Redpoint eVentures, quadruplicou de tamanho: foi de 5 mil metros quadrados para 20 mil metros quadrados. Agora, tem disponíveis 1.250 postos de trabalho – no momento, cerca de 800 funcionários de startups trabalham no novo prédio na Vila Olímpia, zona sul da capital paulista.

A expansão, porém, não foi apenas física: entre janeiro e julho de 2018, as startups presentes no Cubo faturaram R$ 230 milhões, ante R$ 110 milhões do ano inteiro de 2017.

O número de contratos firmados entre as residentes e empresas externas também cresceu: foram 720 parcerias entre janeiro e julho de 2018, ante 370 em 2017. Os números do segundo semestre de 2018 serão revelados apenas em 2019.

Para o ano que vem, a meta do Itaú é ocupar o prédio por inteiro – com capacidade para receber até 200 empresas iniciantes de tecnologia, hoje tem apenas 92. “Devemos também observar um crescimento mais expressivo das empresas que estão conosco”, diz Lineu Andrade, diretor de tecnologia do Itaú.

Na visão do executivo, o principal ganho do banco com o espaço é a proximidade com a inovação. Desde 2016, quando abriu sua primeira sede, o Cubo ajudou o Itaú a modernizar a cultura de organização do banco, diz Andrade. Hoje, para uma startup estar presente no Cubo, precisa passar por uma seleção rigorosa. Além disso, deve pagar cerca de R$ 1 mil por mês por cada posto de trabalho no edifício.

O Habitat, do Bradesco, também viu o espaço se consolidar ao longo do ano: após abrir as portas em fevereiro, na região da Consolação, em São Paulo, já tem 184 startups residentes. Cerca de 60 aguardam apenas o processo de assinatura para entrar no espaço. “Fizemos a esteira andar e a fluidez é percebida”, diz Luca Cavalcanti, diretor de pesquisa e inovação do banco.

No ano que vem, o desafio do Bradesco é ir além das fronteiras físicas, espalhando boas práticas para o ecossistema e traçando contato com empresas que não estão ou não conseguem vir a São Paulo. “Hoje, já temos mais de mil startups cadastradas no nosso hub digital”, diz Cavalcanti. Por meio de uma plataforma, essas empresas podem ter acesso a conteúdo e fazer contato com outras startups e com grandes corporações.

Boas práticas

Disseminar boas ideias e aprendizados também é uma das metas do Google, que desde 2017 administra o Google Campus, no bairro do Paraíso, zona sul paulistana. De lá para cá, o espaço já recebeu mais de cem empresas iniciantes em programas de incentivo.

No mês passado, a empresa lançou o Google Playbook: um guia com dicas da gigante de tecnologia sobre aprendizados dos dois primeiros anos de existência do Campus em São Paulo.

O documento é voltado para empreendedores e outras pessoas envolvidas no mundo das startups, como mentores e administradores de aceleradoras e incubadoras, que queiram ajudar a fomentar uma cena de inovação em suas próprias cidades. “É muito comum receber pessoas de outras cidades e estados perguntando se o Google não poderia levar o Campus para outras regiões”, comenta André Barrence, responsável pelo Google Campus. “Por isso, fizemos o Playbook.”

Quem está em um estágio anterior é o Estação Hack, do Facebook – o espaço, também na zona central de São Paulo, foi aberto em dezembro de 2017, mas só começou a operar com força total este ano. O local tem perfil diferente dos demais: foca em cursos de profissionalização em tecnologia, com aulas de programação para jovens. Além disso, tem um programa semestral de aceleração de dez startups com impacto social, em parceria com a ONG Artemísia.

Para a empresa, 2019 será o momento de consolidar o trabalho. “A gente está nascendo. Se aumentássemos o número de vagas, correríamos o risco de não conseguir dar atenção às startups. O nosso desafio é continuar com um programa que gere impacto”, explica Eduardo Lopes, diretor da Estação Hack.

O foco da Estação Hack no aspecto social é visto por especialistas como um jeito de dar um passo necessário para os centros de inovação para startups: a diversificação. Para o empreendedor Felipe Matos, autor do livro 10 Mil Startups, os locais precisam se diferenciar para buscar os melhores empreendedores. “Os espaços não podem oferecer a mesma coisa. O desafio de cada um é encontrar seu formato de atuação e vocação específica”, diz.