O quartel-general da televisão digital brasileira está localizado em Campinas, no interior de São Paulo. É de lá, dos laboratórios do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações, CPqD, que sairá o relatório definitivo sobre qual o modelo de TV que será adotado em todo o território nacional. A decisão caberá a nove ministros, que se basearão no laudo técnico emitido pelo CPqD. ?Esta é a tarefa de maior responsabilidade que assumimos em nossa história?, diz Helio Graciosa, presidente do CPqD, que montou um time de 60 especialistas para cuidar do assunto. O CPqD foi por muito tempo o centro de pesquisas da Telebrás. Logo após a privatização da telefonia foi transformado em fundação e passou prestar serviços para as operadoras. Na sua trajetória há muitos casos de sucesso, como o cartão de telefone público e a central telefônica digital Trópico, mas realmente nada se compara ao desafio da TV digital. Estima-se que em uma década, a troca de 90 milhões de televisores no País movimente US$ 100 bilhões.

Nos próximos doze meses, o CPqD funcionará como o entreposto que reunirá a produção intelectual de 30 universidades envolvidas no projeto. ?Será um trabalho difícil porque os cientistas brasileiros não têm o hábito de trabalhar dessa forma?, diz Marcelo Zuffo, pesquisador da Universidade de São Paulo. Os técnicos do CPqD desmontarão todas as peças da TV digital para analisar o que pode ser feito no Brasil e a que custo. Trata-se aqui de uma das maiores obsessões do governo atual: reduzir o pagamento de royalties para o exterior. A China já passou pelo processo, mas desistiu depois de ver que a economia não era tão grande. Ao final do ano, o instituto deverá apresentar um protótipo próprio, além de abastecer o governo com relatórios sobre a viabilidade econômica das alternativas possíveis. ?Não iremos criar um padrão que nos deixará isolados no mundo?, afirma Pedro Ziller, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações. ?Vamos basear o trabalho nas tecnologias e softwares que estão no mercado?, diz. O tempo é curto. O governo brasileiro espera que os brasileiros possam assistir à Copa do Mundo de futebol na Alemanha com transmissão digital. Faltam apenas dois anos e meio. ?É um prazo apertado. Mas estamos acostumados a trabalhar assim?, diz Graciosa, do CPqD.